Porto Alegre subitamente mais leve hoje cedo. Motoristas De aplicativo param em protesto (Uber tremendo de medo). Sem o enxame de carros particulares, cada um transportando uma pessoa, o trânsito areja. Avenidas fluindo, transporte coletivo e táxis voltando a fazerem sentido. Mas isso não foi o mais curioso desta manhã sem Uber. O mais estranho foi ver o cidadão desacostumado com o táxi:
Primeiro desafio: redescobrir os pontos de táxi ao redor da sua casa. Google, até aí tudo bem. Depois descobrir que precisa ligar para um telefone FIXO! Sim. Descobrir que precisa fazer uma ligação de VOZ! Sim. De voz, travar um diálogo com o outro lado da LINHA. Perguntas e respostas, aquela forma antiga de se comunicar AO VIVO, com um interlocutor presencial. Descobrir que o taxista conhece seu endereço sem enviar a localização. Olha! Passado esse primeiro "sufoco", conseguido o transporte, é hora de embarcar.
Primeiro o passageiro entra no táxi digitando no celular e digitando continua. Nem bom dia. Acomoda-se no banco traseiro e espera. O taxista precisa perguntar pra onde ele quer ser transportado. Precisa FALAR com o motorista. Certo. Indicado o destino, finalmente o cliente pode voltar ao seu ambiente seguro: o celular. Mas ele estranha o silêncio, não há uma voz robótica de GPS indicando o caminho. Não HÁ UM GPS?? O taxista conhece o local de destino, conhece a cidade. No lugar da voz do Waze, uma musiquinha no volume mínimo. Marisa Monte. Aos poucos, as diferenças vão chamando o cliente à realidade. A gola do motorista, ele não usa camiseta (regata, nem pensar), camisa com gola, a falta de um boné, a falta de odores desagradáveis, cheiro de GNV vazando, o carro LIMPO! O passageiro passa a mão pelo estofamento: não está manchado. É um carro do ano, se bobear tem até porta-malas. Porta-malas, veja só! O carro flui pela avenida Ipiranga enquanto os demais veículos estão parados. O táxi pode usar a faixa exclusiva para ônibus, o taxista informa. A viagem dá-se na metade do tempo.
Chegando ao destino, o passageiro tenta desembarcar. A porta está travada. Oi? O motorista (taxista, no caso), informa que ele precisa pagar pelo serviço. Mostra, inclusive, o taxímetro sobre o painel do carro. Um taxímetro! E aí vem uma última e agradável surpresa. O cliente percebe que o táxi, quem diria, está mais barato que o aplicativo que ele normalmente usa. Com o protesto dos apps, um terço do preço, pra ser exato. Não há DINÂMICA! O taxista mostra o QR code, manda o pix, beleza! O cliente é só sorrisos.
Mas a alegria dura pouco. Logo o patético protesto dos aplicativos flopa. Dão com os burros n'água, óbvio. E as ruas voltam a inchar, e motoristas voltam a bater cabeça, e a tecnologia reassume o controle, e as big techs da vida cada vez mais ricas, e vamo em frente que atrás não vem ninguém!
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