— Tá loko! Bem capaz! Por isso que vcs tão aí parado, o Uber leva por R$25, porque eu já fui várias vezes, vinte e oito no máximo, que isso!! biriri, biriri...
Eu encostado no táxi estava, encostado no táxi fiquei. Ela saiu com as crianças pela mão, digitando furiosamente o celular, chamando Uber, 99, indrive e o escambau. Eu pensei: Ótimo, vai economizar uma grana indo de aplicativo.
Enquanto a mulher esperneava no smartphone, ia perguntando aos colegas, na fila de táxis, quanto cobrariam pela corrida até a Restinga. Até que, por fim, parece ter encontrado um app barato. Ficou esperando ao lado dos táxis. Gloriosa. Mandando um olhar de desprezo pra fila de taquinhos. Em seguida, apontou um Prisma modelo século passado, o para-choque desbeiçado, a lataria torta. A mulher levantou o celular, mostrando que era ela a passageira. O carro, então, acelerou e se foi. Cancelou.
A mulher voltou até meu táxi. Pediu desconto. Expliquei que a corrida, pelo taxímetro, ficaria além dos sessenta. Ela concordou, sabia o valor. As crianças cansadas, ela cansada, os aplicativos cobrando na casa dos 3 dígitos, moto-taxi não dava, ônibus lotados.... Fechamos nos 50 pilas.
Notando o Spotify, a mulher perguntou se poderia escolher um som. Só pedir. Seleção Raça Negra na veia! Eu tinha comprado dois mandolates na sinaleira. Dei pros moleques que pareciam com fome. O bebê de colo pegou uma teta e vamo que vamo. Logo a criançada ferrou no sono, até a mãe dormitando.
Fomos além da Restinga, muito além, quase Lomba do Pinheiro, Minha Casa Minha Vida, extremo sul da cidade. Tudo bem. Ainda ajudei com uma das crianças que não queria acordar. Dei um colo até a portaria. Tudo incluído nos 50tåo!
O sol se pondo além dos Morros da Agronomia e eu descendo em direção à casinha. Ao fundo, como quem me consola, Raça Negra mandando o recado aos passageiros que voltam a usar o velho e bom táxi: Hoje é você quem está sofrendo, amor/Hoje sou eu quem não te quer...
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