Hospital Ernesto Dorneles, meu táxi é o único no Ponto. Jesus chega fumando, faz um sinal, diz que já vai entrar, quer apenas terminar seu cigarro. Tranquilo, estou mesmo acabando de digitar uma mensagem no celular. Jesus traga o crivo com prazer, admirando a fumaça que se dispersa no ar. Ele está feliz, não tem como não notar. Jesus ri sozinho.
É incomum um passageiro embarcar no táxi, no banco da frente e apertar a mão do taxista, se apresentar. Jesus Quirino, prazer. Ele me pediu que o levasse até a rodoviária. O sotaque carregado. Venezuelano. Jesus não conseguia conter-se de tão feliz. Segurava uma pasta transparente, com uma papelada dentro, mas o motivo de tanta alegria estava na sua mão. Mostrou-me os dois documentos de identidade. Dele e do filho. Estava saindo do prédio da Polícia Federal, com seus tão desejados documentos da República Federativa do Brasil. Jesus não cabia em si de feliz.
Desde janeiro no Brasil, ele e o filho, trabalhando em um frigorífico na Serra gaúcha (matando porco), Jesus acredita no país, disse que não volta mais para a Venezuela. Disse que morava numa região riquíssima em petróleo, ouro e ferro, mas não tinha como se sustentar, sequer dar de comer ao filho. Jesus se encontrou no Brasil, já ama nosso país.
Dei os parabéns a Jesus. Desejei que ele e o filho sejam felizes por aqui. Ele agradeceu, apertou minha mão, efusivo como se nos conhecêssemos desde sempre. Um homem com perspectiva de futuro, trabalho, respirando esperança, o documento na mão, o emprego, seus porcos esperando para serem abatidos... Pode não parecer muito, mas era tudo o que precisava aquele Jesus desembarcando do meu táxi. Guardando seus preciosos documentos, tirando mais um cigarro da carteira, sumindo na multidão da rodoviária de Porto Alegre, a felicidade em pessoa. Jesus, enfim, é brasileiro.
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