Temos um dependente químico que pega táxi aqui no nosso Ponto. Mora em situação de rua, abaixo da linha da pobreza. Ele vem sempre com o cachorrinho no colo e uma nota de dez na mão. Fui o primeiro a aceitar a corrida – poucas quadras, o dinheiro dá e sobra. Ficou conhecido do Ponto. Apenas um dos colegas não aceita levá-lo. Não aceita por causa do cachorro. Enfim.
Hoje, esse nosso cliente chegou mais alterado que o normal. Gesticulando, falando sozinho, sem o cachorro. Eu era o ponta. Ele avisou que a corrida seria um tanto mais longa, até a Azenha. Perguntou se eu poderia fazer pelos mesmos dez. Bora. Perguntei o que estava rolando.
– Tô devendo na boca. Duzentos conto. Querem a minha cabeça. Pegaram o meu cachorro. Tô indo lá pagar os caras.
Ao longo do caminho, meu passageiro foi tirando dinheiro dos bolsos, da cueca, do boné, sacando notas amarrotadas, dobradas, enroladas. Ele dava uma espichada na cédula, contava, mais cinco, trinta e cinco, e jogava no assoalho do táxi. Mais dez, quarenta e cinco, mais vinte, sessenta e cinco, espicha e joga no chão. Foi aumentado o bolo de notas no tapete do carro até que chegou a 196 Reais. Então, começou a jogar as moedas. E pá! Duzentão! Recolheu tudo de forma um pouco mais organizada, socou no bolso e passou a arrecadar moedas pra pagar a corrida, pois já estávamos chegando. Sete reais em moedas de cinquenta centavos, foi o que sobrou.
– Deixa assim, tá suave. Vai buscar teu cachorro.
Meu cliente agradeceu e se foi, alterado, gesticulando, falando sozinho. Com sorte, há de ficar tudo bem.
Um comentário:
Que história linda! Parabéns!
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