- Gilberto, diz pra ele o endereço, Gilberto.
- Hã, quê, hã?
- Fala pro taxista, Gilberto! Diz aonde nós vamos, Gilberto!
- O cinto? Tem que botar o cinto aqui na frente? O quê, hã?
- O senhor ajude ele com o cinto, por favor... Agora fala o endereço pro taxista, Gilberto!
- Já falou pro taxista o endereço, Cleusa?
- Não, Gilberto, fala tu, Gilberto, tu está na frente, do lado do taxista, por que é que eu vou falar a porcaria do endereço, Gilberto?
- Ela já falou pro senhor aonde nós vamos? O quê é que ela tá falando? Ela fala pelos cotovelos. Cleusa, o que tu quer, o que tu quer, Cleusa?
- Que tu diga... Deixa pra lá, velho surdo... Vamos no Cemitério João XXIII, por favor.
- Taxista, nos leve no Cemitério...
- Eu já falei, Gilberto, agora eu já falei.
- Ela fala pelos cotovelos.
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Erico Veríssimo acaba de desembarcar do meu táxi. Ele mora no Passo da Areia, mexe com imóveis, é espírita e (para desgosto da sua mãe) nunca se interessou por literatura.
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Uma pessoa saindo de um motelzinho de quinta categoria faz sinal para meu táxi - uso a palavra pessoa pois, honestamente, no curto espaço de tempo que durou a corrida, não consegui identificar, nem quis perguntar, o sexo da figura andrógena ao meu lado. A pessoa me propôs pagar 7 Reais pela corrida até uma boca de fumo próxima dali. Ela estava com o dinheiro na mão e abriu a contabilidade para mim. O homem que estava no motel com esta pessoa, para quem ela estava indo buscar drogas, tinha destinado 60 Reais para a tarefa: cinquenta para a droga, dez para o táxi. Ela me propôs pagar 7 pela corrida, para que lhe sobrasse troco para um cigarrinho. Tudo bem. Se é para dar desconto, que seja para alguém mais ferrada(o) do que eu.
Um comentário:
Noossa, isso é que é presente no dia do seu aniversário! Parabéns e muita saúde e inspiração. Abração.
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