Mesmo em silêncio, no banco traseiro do táxi, a passageira dava pinta de que precisava falar - o esfregar das mãos, o olhar perdido. Bastou em perguntar se estava tudo bem e a moça desatou a falar.
Ela tinha participado de uma balada dois dias atrás. Bebidas, som alto e alguma droga. Em meio à loucura, tinha conhecido um rapaz. Nada de mais, apenas mais um entre os tantos caras que lhe xavecaram. Mas eles acabaram em um “canto mais escuro da casa” e o clima esquentou.
Beijos pra cá e pra lá, puxa daqui, esfrega dali, braços, pernas, o cara acabou engolindo o brinco da moça!
Segundo minha passageira, era um brinco de ouro, caro. Depois de passar o resto da festa enfiando o dedo na boca do cara para que ele vomitasse a joia, ela acabou desistindo. Antes de partir, o rapaz pediu o contato dela, caso recuperasse o brinco. Ela relutou, mas acabou ditando o numero do celular, mesmo porque ele não tinha caneta para anotar.
Passado dois dias ele havia ligado. Agora ela estava no meu táxi, aproveitando o horário de almoço, para ir até o endereço que o rapaz tinha lhe passado. Estava apreensiva, nem sabia se queria o brinco de volta, tinha nojo só de pensar por onde ele tinha passado.
O endereço era um café. A moça pediu que eu aguardasse. Ela voltou em seguida com um ramalhete de flores e uma pequena caixinha nas mãos. Parecia confusa. Enquanto voltávamos, ela confessou que o rapaz parecia interessante. Era o dono do tal café. Depois de se desmanchar em desculpas, tinha lhe entregado as flores e a caixinha, que ela apenas pegou e saiu correndo, encabulada.
Confessou que estava encantada com a delicadeza do rapaz, feliz pelas flores, mas não sabia se abria a caixinha. Tinha nojo. Estacionei o táxi e abri para ela. Continha dois lindos brincos de ouro, brilhantes, novinhos em folha.
Ela pediu que eu manobrasse o táxi e retornasse ao café. Algo me diz que aquele será o começo de uma história de amor.
3 comentários:
De certo, o mundo precisa de mais histórias assim e de mais taxistas escritores!
Que bonitinhos, Romeu e Juleta do século 21, têm tudo para dar certo. O acaso tem dessas coisas...
Show de bola!!!
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