O velhinho embarcou falando mal de outros taxista que não queriam levá-lo. Também estava atrapalhado com o guarda-chuva, que teimava em não parar fechado. Parecia uma metralhadora de tanto que falava, mandou ir tocando em frente enquanto espinafrava os taxistas e o maldito guarda-chuva. A primeira impressão do meu passageiro foi péssima, mas isso logo mudou.
Já com o guarda-chuva domado, o vovô revelou sua idade: 94 anos. Puxou sua carteira da marinha e mostrou-me orgulhoso a data de nascimento. Disse que viajou o mundo, morou na “Urópa” por longos anos. Não soube dizer o país: “lá… na capital”. Meu falante cliente contou que é capaz de entrar com um navio em qualquer porto do mundo. Conhece todos. Mostrei-me interessado e ele não parou mais de falar.
Teve dois filhos na “Urópa”. Costumava mandar dinheiro para os “garotos”, até que eles informaram ao pai que não precisava mais. Só então, teria se dado conta que seus filhos já eram pais, avós, que estavam velhos. Desde então, não tinha muito o que fazer com sua aposentadoria de 48 mil por mês! O velhinho parecia misturar ficção e realidade. Tudo bem, adoro isso.
Mostrou o relógio de ouro no pulso, pelo qual teria pago “uma banana”. Contou que tem 14 pares de sapatos comprados ao redor do mundo. Garantiu que, quando coloca seu terno branco com sapatos vermelhos, chegam a pará-lo na rua para bater foto. Disse que deu um carro para sua namorada, mas ela, analfabeta, não estava conseguindo tirar a carteira. E dê-lhe falar!
No final da corrida, tirou um maço enorme de notas de R$50 do bolso. Não economizou na gorjeta. Com a ingenuidade típica do século passado, meu idoso passageiro me passou seu endereço completo e convidou-me a visitá-lo para continuarmos o papo. Perguntou onde eu morava: Partenon. como não lhe dei o endereço, despediu-se avisando apenas que me fará uma visita quando for para os lados do Partenon. Combinado.
Desceu do táxi e partiu brigando com o guarda-chuva.
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