O homem estava em meio a uma crise violenta de asma. Em uma rua de pouco movimento, tentava em vão conseguir um táxi. Sentiu suas forças acabando, as pernas amolecendo. Acabou sentado no cordão da calçada. Agora mesmo é que nenhum táxi vai parar para mim, pensou. Mas, como por milagre, um taxista atendeu aos seus sinais.
Com o que lhe restava de forças, o homem se arrastou para dentro do táxi. Tentou falar que precisava ir para o Pronto-socorro, mas nem as palavras conseguia pronunciar. O taxista, por sorte, entendeu. Pronto-socorro. Finalmente, a caminho do hospital.
Foi quando o taxista resolveu “ajudar”.
O taxista perguntou ao passageiro se ele queria ficar bom daquela asma horrorosa. Se queria se curar definitivamente. Disse que tinha a solução para aquilo, disse que conhecia um lugar onde acabariam com o seu problema de saúde. O homem não conseguia falar, não conseguia mais nem pensar direito, sinalizou que o taxista o levasse logo aonde quer que fosse.
Quando o taxista estacionou em frente ao prédio enorme, com uma enorme cruz na fachada, o passageiro não entendeu direito. Uma igreja! O taxista explicou que era hora do culto dos enfermos - de dentro do prédio ouvia-se os gritos dos fieis. O homem, ateu, achou que aquilo podia ser um sinal divino, talvez fosse hora de acreditar em Deus. Pagou a corrida e desceu.
Depois de ficar uns vinte minutos sentado no último banco do templo, tendo espasmos, as vias aéreas fechando, as extremidades ficando roxas sem que ninguém desse bola para ele, o homem resolveu voltar para a rua. Voltou a procurar um táxi.
O outro taxista, vendo que o passageiro estava morrendo, levou-o voando para o Hospital de Pronto Socorro, sequer cobrou a corrida, mais alguns minutos e não daria mais tempo.
Agora, toda vez que embarca em um táxi, o homem confere se o taxista ao volante não é o crente que tentou matá-lo e ainda cobrou por isso. Ele acredita que um dia encontrará o excomungado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário