Casos de crime e amor

Dois passageiros, duas histórias.

O jovem embarcou e pediu que eu pegasse a Bento Gonçalves em direção a Viamão. Ele contou que sua moto tinha acabado de quebrar o motor, estava atrasado. Falante, disse que trabalhava com gesso. Começara como empregado, fez vários cursos, especializou-se. Agora chefiava uma equipe, era supervisor em uma grande empresa, estava crescendo na vida.

Chegando em frente à Faculdade de Agronomia, ele pediu que eu fizesse o retorno, precisava que o levasse até o albergue do semiaberto. Vendo minha cara de chateado por ter que subir a longa estradinha de chão que leva até o topo do morro, ele desculpou-se, disse que precisava chegar no horário, estava cumprindo a pena de forma exemplar. Tinha esperança de ser liberado para passar o ano-novo em casa.

Enquanto subíamos o caracol esburacado ladeira acima, ele contou que tinha se envolvido em um acidente de trânsito. Como tinha bebido umas cervejas, acabou caindo na lei seca. Devido a umas besteiras adolescentes, já não era primário, teria que puxar um ano de semiaberto. Emocionado, confessou que a experiência estava acabando com seus nervos. Mesmo o fantasma das drogas, do qual ele se julgava livre, voltava a rondá-lo. Pagou a corrida e deixou uma gorja para a lavagem do táxi. Desejei-lhe sorte.

A senhora bem vestida acomodou-se no banco traseiro e deu o destino. Ao saber que sou um colecionador de histórias de táxi, ela resolveu contar a sua. Uma história que aconteceu há muitos anos, quando ela ainda era uma jovem estudante.

Minha passageira disse que embarcou em um táxi e, rodadas algumas quadras, o taxista perguntou se ela gostava de poesia. Meio desconfiada, ela disse que sim. O rapaz ao volante, então, declamou uma longa e delicada poesia que a deixou emocionada.

Vendo que eu não estava muito impressionado, a senhora terminou sua história: Passados mais de 50 anos daquela corrida, ela continua casada com aquele taxista poeta.