domingo, 2 de novembro de 2014

O bêbado

Parece simples ser taxista, você apenas vai rodando pela cidade com seu táxi, para quando alguém lhe faz sinal, leva o passageiro até onde ele precisa ir e pronto, recebe pelo serviço. Ledo engano. O bom taxista não trabalha no piloto automático. O bom taxista precisa desenvolver estratégias de autopreservação. Tem que ficar esperto, sobretudo na hora de abrir a porta.

É preciso apurar o poder de observação, ter olhos de águia. Se o passageiro agita o braço freneticamente em direção ao táxi: atrasado. Se não levanta o braço, ergue apenas o dedo: desconfiado. Se aponta o dedo em riste, cenho franzido: irritado. Com base apenas nessa primeira visão, o bom taxista já consegue antever o clima da corrida.

Dentre todos os tipos de passageiros, o bêbado é aquele com quem o taxista precisa ter mais cuidado. Antes de abrir a porta do táxi, é preciso saber identificar o estado do vivente e se ele é um bêbado que merece ou não confiança. Funciona assim.

O bêbado, em geral, chama o táxi encostado em um poste (para disfarçar a embriagues). Quando a pinga está muito braba, ele não consegue manter o braço levantado. É preciso que o taxista então diminua a marcha e observe: caiu o braço, já era. Outro ponto a ser notado é o cigarro. Se a cinza está muito grande, é sinal que ele está tão tonto que sequer lembra que está fumando. Melhor nem parar.   

Caso decida arriscar, o taxista para alguns metros adiante. Para que o bebum caminhe até o táxi. É preciso observar com atenção essa caminhada.

É importante ver se o bêbado vem resmungado, maldizendo o taxista incompetente que parou longe dele. Caso ele venha falando sozinho, a coisa está feia, mas ainda há esperança. O teste final, que irá selar o destino do bêbado, é a mão no trinco. Ele precisa achar o trinco da porta na primeira tentativa. Caso isso não aconteça, é engatar a primeira marcha e seguir rumo a um cliente descente.

Nesses casos, costumo não olhar para trás. Lamento, amigo.

 

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