A mão que balança a cortina

Só depois que o passageiro embarcou, o taxista Casquinha notou que seu cliente estava bêbado e armado. O homem largou sobre o colo um revólver enorme, cabo de madrepérola, uma arma para não deixar dúvidas. Ele explicou que era delegado de polícia, que o revólver era só uma precaução. Pediu que Casquinha tocasse até um certo inferninho, precisava achar uma prostituta que lhe passara a conversa. Como era uma corrida e tanto, o taxista aceitou.

Chegando ao prostíbulo, o homem pediu que Casquinha o aguardasse. Ele não demorou muito lá dentro, o suficiente para não encontrar a prostituta e para tomar umas doses: voltou ainda mais tonto. Pediu que Casquinha tocasse para um outro bordel onde a história se repetiu: entrou, tomou mais um trago e voltou um tanto mais bêbado. Nada da prostituta.

A coisa se repetiu em mais alguns cabarés. O homem explicou que procurava uma garota para quem tinha pago uma lipoaspiração. Depois de recuperada da cirurgia, a menina passou a fugir dele.

Quando resolveu ir para casa, o delegado estava podre de bêbado. Não atinava mais nada. Chegando em frente à residência, perguntou quanto devia pela corrida. Casquinha cobrou caro, mas o passageiro pagou sem chiar. Ele tinha uma enorme mascada de dinheiro no bolso.

Mas se o homem era valente com as gurias, morria de medo da esposa. Ele contou que sua mulher costumava esperá-lo espiando pela cortina da sala. Perguntou ao taxista se a cortina estava balançando. Pra tirar uma onda, Casquinha disse que sim. O delegado, então, resolveu esperar mais um pouco no táxi.

Um tempo depois, decidiu encarar a mulher. Perguntou quanto devia ao taxista. E pagou toda a corrida de novo! Depois de receber o novo pagamento, Casquinha informou que a cortina ainda estava balançando. Novo tempo de espera no táxi, novo pagamento integral e nada de entrar em casa.

Casquinha só mentiu que a cortina tinha parado de balançar quando o dinheiro do delegado acabou.