Duas mulheres saíam de um motel. Uma delas fez sinal para meu táxi. Ela veio até a janela do carro e perguntou se eu levaria a outra até a cidade de Sapucaia do Sul. Ela explicou que era funcionária do motel, estava deixando seu turno de trabalho, indo para casa, mas antes precisava “despachar” aquela moça que já estava no motel havia 3 dias.
Era um caso complicado pois a moça não tinha todo o dinheiro da corrida, a mãe dela pagaria o restante chegando ao destino. Enquanto a funcionária do motel tentava me convencer a fazer o serviço, a moça parecia alheia, um pouco fora do ar, mas concordou que eu usasse seu celular para ligar para sua mãe. Pelo telefone, a mulher implorou que eu levasse sua filha até ela, pagaria o preço que fosse.
Um tanto relutante, parti com a moça rumo a Sapucaia, um olho na estrada, outro na minha passageira. Ela concordou em contar-me sua história, o que fazia enfiada naquele motel.
Ela era casada, mulher de um taxista. Tinha trabalho, uma filha de 5 anos, uma vida normal. Mas era dependente química, estava em meio a uma recaída braba. Confessou que havia entrado em parafuso, roubado o dinheiro que seu marido guardava em casa, comprado uma quantidade de drogas e se isolado do mundo pagando adiantado 3 diárias naquele motel barato.
Chegando em Sapucaia, a moça começou a ficar agitada. Talvez sentindo que teria que enfrentar, enfim, a realidade, resolveu que não queria mais ir para a casa da mãe. Pediu que eu a deixasse em uma igreja próxima dali. Paramos em frente a uma igreja evangélica. O pastor aceitou conversar com ela. Enquanto conversavam a sós, tornei a ligar para a mãe. Ela morava perto da igreja. Chegou em menos de 5 minutos.
Depois de uma longa conversa, a moça concordou em ficar com a mãe. Deixei-as em casa entre lágrimas, pedidos de desculpas e promessas de apoio. Tudo há de se ajeitar.
Na volta para Porto Alegre, a BR 116 me pareceu mais desbotada e triste do que nunca.
3 comentários:
Histórias reais da nossa sociedade....Queira Deus que essa moça reencontre sua vida....bom dia...
alo amigão........somos nós com nossos gestos e ações que damos "cores" a vida.........
Os taxistas tem estórias engraçadas para contar, mas, vez por outra, um drama consistente aparece.
Uma crônica que faz pensar no que está se transformando as pessoas e a sociedade.
Abs.
Ricardo Mainieri
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