Eu não sei o que acontece comigo, mas acho que tenho o dom de atrair gente esquisita para meu táxi. Tenho um passageiro que basta eu ligar o taxímetro e o infeliz começa a tecer teorias conspiratórias. Teorias as mais estapafúrdias. Já perguntei para outros colegas se isso acontece nos táxis deles e todos garantiram que o homem sequer abre a boca durante as corridas. Só acontece comigo.
Natural do município de Tapes, às margens da Lagoa dos Patos, ele garantiu ter descoberto uma estrada que não existe nos mapas, que leva a uma propriedade anônima, que abrigaria um porto clandestino na lagoa. Grandes investidores estrangeiros estariam usando este porto fantasma para desovar latex extraído ilegalmente no Brasil. As operações no porto fantasma seriam comandadas por magnatas das fitas adesivas 3M, que teriam se interessado por seu município por causa do nome, que, em Inglês, significa fita. Óbvio.
Às vezes, chego a procurar no olhar de meu passageiro algum sinal de deboche, mas ele fala sério, parece acreditar no que está dizendo, e espera que eu acredite também. Ele trabalha em um prédio público e dá a entender que usa o sistema de dados federal para obter informações sigilosas.
O nome da poderosa Monsanto teria origem nos MÓrmons, SANTOs dos últimos dias, a religião de origem americana. Os cintos de munição atravessados nos peitos dos cangaceiros teriam a ver com a bandeira da Irlanda do Norte e seus movimentos revolucionários. Grupos maçônicos, nazistas, illuminatis, todos são alvo de investigações de meu atilado passageiro.
Na última corrida, por exemplo, ele segredou-me sua mais recente linha de investigação. Nada menos do que a Ku Klux Klan, organização racista secreta americana estaria agindo nos porões do Ministério da Saúde. Zé Gotinha, simbolo da vacinação contra a pólio, seria a prova desta conspiração. Basta olhar para o boneco!
Será que eu colei chiclete (goma de mascar americana) na cruz para merecer isso?
4 comentários:
Que perigo! Nos meus tempos de Zero Hora e Diário Gaúcho, também tive contatos com essas pessoas diferentes. Uma delas foi à redação de ZH para pedir ajuda. Ele estava sendo perseguido porque alguém achava que ele havia matado o José Antônio Daudt. Um dia, ele teve que descer do ônibus porque ocupantes e um carro apontaram para ele, indicando que ele era o matador. E, como no coletivo. algumas pessoas também passaram a olhá-lo, resolveu descer e fugir. O réu acusado de mandante do crime foi absolvido por falta de provas, e o atirador nunca foi encontrado. Será que perdemos a oportunidade de ter conseguido um furo jornalistico nacional? Abrs
Mauro.....esse aí estava a tempos pensando.....contando histórias um dia apareço nos textos do taxista escritor.......
Às vezes é só pela zoação mesmo, e tem gente que consegue fazer expressões sérias mesmo contando as lorotas mais estapafúrdias. Chega a ser engraçado falar de algumas teorias conspiratórias bizarras para um evangélico dos mais fervorosos só para ver o susto do sujeito.
Fim do dia com muitas risada, obrigada Mauro.
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