domingo, 13 de julho de 2014

Nunca se sabe

Fui atender à solicitação de um táxi para uma clínica psiquiátrica. Eram três passageiros. Um casal de jovens, vinte e tantos anos, e um homem mais velho. Eles colocaram algumas mochilas, roupas, travesseiro e uma tela pintada a óleo no porta-malas. Trata-se de uma conhecida clínica especializada em recuperação de dependentes químicos. Estava claro que um deles estava saindo de uma internação. Fiquei curioso.

O homem sentou-se no banco da frente, ao meu lado. Um sujeito normal, roupa normal, apenas um forte cheiro de cigarro, nada mais. Logo ficou claro que era o pai dos jovens que sentaram atrás. Ele deu o destino da corrida, indicou o caminho que gostaria que eu fizesse e se calou.

O rapaz, muito magro e pálido, pegou um dos meus livros que deixo em exposição no táxi e começou a ler. Ele vestia uma camisa de flanela xadrez um pouco inadequada para o clima ameno que fazia. Logo começou a rir das minhas histórias e chamou a atenção da irmã para o livro.

A garota comentou que poderia escrever um livro apenas com as histórias que já passou em táxis saindo de festas. Ela tinha o cabelo pintado de azul, um piercing no nariz e os braços tatuados. Contou algumas situações embaraçosas que passou com os taxistas da noite.

Caso tivesse que apostar, colocaria minhas fichas na garota como provável paciente de uma clínica psiquiátrica.

Próximo ao final da corrida, o pai avisou que ficaria em um mercadinho, um pouco antes de casa, para comprar algumas coisas que estavam faltando. A garota protestou, queria que o pai fosse junto com eles para casa. O homem pediu que eu parasse o táxi. A filha, então, desembarcou e cruzou os braços. Faria as compras com ele. Contrariado, o homem desceu e eu segui com o rapaz mais algumas quadras.

Chateado, o garoto explicou que estavam tentando de tudo para salvar o pai do vício do álcool. Mesmo que, para isso, tivessem que ficar o tempo todo ao seu lado evitando o primeiro gole.


2 comentários:

Ricardo Mainieri disse...

As aparências enganam...(rs)

Silvia C. disse...

De cara pensei mesmo que fosse o pai.... se fosse um dos filhos seria fácil demais.
Melhoras pra ele!

Bom fim-de-semana
=^.^=