Como supervisor do ponto de táxi, sou responsável por atender as ligações de passageiros em busca de explicações.
A mulher do outro lado da linha estava uma fera. Tive que afastar o fone do ouvido de tanto que ela gritava. Alegava que fora insultada por um taxista do nosso ponto. Casualmente, o colega ao qual ela se referia estava na minha frente. Com um gesto, pedi que o Bola ficasse onde estava, enquanto eu ouvia a reclamação da mulher. Tudo que ela falava, eu repetia em voz alta. Logo, Bola me fazer sinal de positivo, sinalizando saber do que se tratava.
A passageira disse que pegou o táxi acompanhada de uma amiga. As duas embarcaram no banco de trás. A reclamante entrou primeiro, portanto sentou-se atrás do motorista, mas meu colega teria pedido que elas trocassem de lugar no banco. Ele teria alegado que o peso estava mal distribuído, o que afetaria a suspensão do carro.
Nosso obeso colega teria dito que seria injusto com as molas transportar dois gordos do mesmo lado do carro com apenas uma magrinha para contrabalançar. Segundo a indignada passageira, ela nem era gorda. Na minha frente, meu colega enchia as bochechas de ar e afastava os braços em arco tentando mostrar que, sim, a passageira era enorme. Foi difícil permanecer sério ao telefone. A insensibilidade masculina não tem limites.
Em outra ligação, o clima já foi bem diferente. Uma passageira com voz suave e um tanto insegura pediu que eu a ajudasse a achar um certo taxista que teria declamado um poema para ela durante uma corrida. Não foi difícil identificar o sujeito. Temos no ponto um colega que vive arriscando seus versos ao volante.
Acontece que, ao final da corrida, nosso taxista teria pedido a passageira em casamento! Perturbada, ela teria saído às pressas do táxi, mas, depois de pensar melhor, estava ligando para o ponto em busca de mais detalhes da proposta.
Passei o telefone para o nosso Camões de araque. Espero ser convidado para padrinho.
Um comentário:
Hahaha... Duas cenas deliciosas e muito bem narradas.
Parabéns, Mauro!
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