Eu estava no alto do Morro Santa Tereza, largando uns espanhóis que iam participar de um programa sobre a Copa na RBS TV. Eu ajudava os caras a retirar suas mochilas do porta-malas do táxi quando vi pela primeira vez o rapaz. Ele tinha as mãos nas costas, olhava para mim, parecia aguardar que meus passageiros se afastassem para me dizer alguma coisa. Um dos gringos também notou a presença do rapaz. Ele segurou com mais força sua mochila junto ao corpo e pediu pressa a seus companheiros. A aparência do rapaz que nos observava era mesmo assustadora.
Assim que os espanhóis se foram, o rapaz veio até mim. Olhei para ele como quem tenta decifrá-lo. Ele parecia estar acostumado com aquele tipo de avaliação. Esboçou um sorriso e levantou um pouco as mãos, como se tentasse mostrar que estava desarmado. Tinha uma pequena garrafa de cachaça em uma das mãos e uma nota de R$ 10 na outra. Estendendo o dinheiro em minha direção, perguntou se eu o levaria até a Vila dos Comerciários.
Levei medo. O rapaz tinha a pele amarelada, o cabelo descolorido e ralo, coberto por um boné sujo. Magro demais, os olhos fundos e avermelhados, parecia óbvio que estava saindo da boca de fumo que há ali perto. Antes mesmo que eu perguntasse, ele me garantiu que não haveria problemas. Vamos nessa.
Grato por eu ter aceitado a corrida, ele confessou que estava mesmo saindo da boca de fumo, mas eu não precisava me preocupar, a droga estava “enfiada” em um lugar que nenhum policial ousaria revistar. Tentando não pensar no assunto, perguntei se ele estava acompanhando os jogos da Copa. Óbvio que não. O cara não tinha nem onde morar, muito menos TV.
Deixei-o na Avenida Sepé, onde lhe esperava sua “companheira de madrugada”, uma prostituta de quinta que se vira por ali - a cachaça era encomenda dela. Ao que tudo indica, será uma noite longa, sem o colorido verde de uma tela LED nem gritos de gol. Talvez os foguetes ao fundo iluminando a miséria padrão Brasil.
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