- Olha, acho que é um turista da Copa vindo ali, vai pegar táxi, está vindo pro lado do ponto.
- Turista nada. Só acredito se estiver enrolado em alguma bandeira.
- Claro que é gringo. Olha, é ruivo, deve ser holandês, que holandês até o cabelo é laranja .
- Mas a holanda jogou em Porto Alegre há duas semanas.
- Sei lá, pode ter se perdido do bando, que holandês anda tudo em bando.
- Te falei... Passou reto, e cantando uma música do Zeca Pagodinho. Brasileiro, ruivo e pagodeiro ainda por cima.
- Mas onde é que estão os turistas que iam encher os táxis? Cheguei a fazer cursinho de inglês. Do you speak english. Não deu nem pra praticar. Duas semanas de Copa e fiz só 3 corridas para estrangeiros.
- Eu fiz duas. Mas uma não conta, era para uns argentinos. Nem dá pra considerar turistas, falavam português melhor eu. E argentino não dá gorjeta, pede desconto.
- Ontem embarcou um cabeludo no meu táxi, pensei que era argentino. Ola, que tal! Era músico brasileiro, faz couver do Fábio Júnior. Maior mico.
- Os estrangeiros vêm pra cá só na hora do jogo e voltam pro centro do país. Não ficou ninguém em Porto Alegre.
- Só a delegação do Equador.
- Assim mesmo, ficou em Viamão. Bem longe de qualquer ponto de táxi.
- Comprei camisa nova, calça preta, sapato. Mandei até polir a lataria do táxi. E os turistas que iam encher os nossos bolsos, cadê? O prefeito disse que a gente não ia dar conta de carregar tanto estrangeiro, mas, por enquanto, muito pouco, quase nada.
- Uma hora é congestionamento e bloqueio da FIFA, outra hora é rua deserta por causa de algum jogo. Nos dois casos, prejuízo.
- Olha, aquele gordo vindo ali tem cara de torcedor, está com um agasalho da Adidas. Aposto que é alemão - não tinha cursinho de alemão na prefeitura. Vou abrir a porta do táxi.
- Passou reto também. Olha a carteira de trabalho no bolso traseiro. Além de brasileiro, desempregado: de que jeito vai pegar táxi?
- Vai ser mais um dia difícil.
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