Estávamos eu meu colega Casquinha no ponto de táxi. Cigarro atrás da orelha, palito na boca, o velho taxista aproveitou para contar sua história. Um relato pontuado por suspiros e olhos baixos.
O rapaz pediu licença antes de embarcar no táxi. Enquanto Casquinha ligava o taxímetro, notou que seu cliente era um moço de fino trato. O táxi foi invadido por um bom perfume, o moço tinha o cabelo ainda molhado do banho. Um rapaz alto, bem vestido, pasta embaixo do braço. Gente direita, pensou Casquinha.
Depois de indicar o destino da corrida, o rapaz iniciou uma conversa esquisita. Falou sobre a noite abafada, sobre o suor que brota dos corpos que se amam com um calor daqueles, disse que adorava lamber suor, passar a língua por todo o corpo de seus namorados. Enquanto falava essas coisas, o rapaz alisava discretamente a perna do velho Casca!
Meu colega contou que repeliu o garoto, tentou colocá-lo em seu devido lugar, mas o passageiro voltou a insistir no assunto. Queria saber do Casquinha sobre suas preferências sexuais. Era uma corrida longa e, aos poucos, a resistência do taxista foi sendo vencida.
Casquinha confessou que foi entrando no clima. Viúvo há mais de 20 anos, o velho coração do taxista, súbito, voltava a bater de um jeito diferente, voltava a correr por sua espinha um frio que já não sentia havia muito tempo. No escuro daquele táxi que cortava a noite abafada de Porto Alegre, um jovem rapaz mostrava a um velho taxista que a vida ainda poderia trazer-lhe boas surpresas.
Quando o jovem engrossou a voz e anunciou o assalto, o taxista chegou a sorrir incrédulo. Não acreditou. O velho Casca contou que só caiu a ficha quando sentiu o cano do revólver encostar em seu ouvido.
Contada a história, Casquinha puxou o cigarro da orelha, armou um sorriso sem graça e recostou-se no banco do ponto, pensativo. Entre uma tragada e outra, um “tá louco”. Preferi um silêncio neutro, solidário. A vida nos prega peças.
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