Sobre o livro e outros diálogos

- Esse livro transado, esse expositor no banco do táxi, essa fanpage no Facebook… Foi o senhor quem bolou tudo isso?

- Minha filha.

- Ela é publicitária?

- Melhor que isso: ela é jovem.

- O senhor vende esse livro a R$20, mas quanto ele custa para o senhor?

- Não saberia calcular.

- Mas é só pegar o valor que custou para editar e dividir pelo número de exemplares.

- Ah, o senhor se refere ao custo FINANCEIRO… Eu estava pensando nos anos que levei para escrevê-lo.

- Esse livro aqui, Taxitramas, o senhor conhece esse Mauro Castro, o autor?

- Acho que conheço. É para isso que faço análise.

- Esse livro que está aqui, Taxitramas, o senhor já leu todo ele?

- De certa forma, sim.

Depois de não mostrar interesse por meu livro, a mulher retira um panfleto da bolsa.

- Vou deixar essa leitura com o senhor. Igreja do Resplandecer Divino!

- Não, obrigado.

- Mas o senhor não acredita em Deus? Precisa ler a Palavra!

- Estou lendo Nelson Rodrigues, no momento.

- O senhor sabe aquele cantor sumido, o Belchior? Meu genro levou para morar com ele.

- Como assim?

- Isso mesmo. Minha filha vai pedir o divórcio.

- Pudera.

A idosa embarca no meu táxi, que é o único no ponto. Alguns metros adiante, ela pede que eu encoste para pegar sua mãe, que espera na calçada. A velhinha embarca e pergunta à filha:

- O taxista Vitor não estava no ponto? Nem o Zé Bigode?

- Não, mãe, nem o seu Paulinho. Não tinha NINGUÉM.

- As senhoras desejam ir para onde mesmo?

Um garotinho saltitante de cerca de 5 anos embarca com sua mãe. Depois de perguntar como me chamo, ele informa o seu nome e sobrenome. Ele é albino e, apesar da pouca idade, seus olhos brilham atrás dos óculos de lentes grossas. Curioso, ele questiona:

- O senhor é taxista?

- Sim. E tu o que vais ser quando crescer?

- Carregador de malas (convicto).

- Uau, deve ser legal ser carregador de malas!

- É.

- Pensando bem, acho que eu também sou um pouco carregador de malas...

- Mesmo?