Atropelamento

Era uma noite quente de verão. O taxista guiava despreocupado, conversando amenidades com a passageira que sorria no banco traseiro. A paz reinava dentro do táxi quando um rapaz surgiu correndo e cruzou a avenida. Não houve tempo para frear. O atropelamento foi inevitável.

Uma pancada seca, um estrondo. O corpo do rapaz rolou sobre o capô do táxi e foi jogado para o meio da avenida. O taxista freou em pânico, coração disparado, pernas bambas, a passageira gritando, agarrando-se aos bancos. Alguns metros adiante o carro parou. Adrenalina, tremedeira. Lá atrás, o corpo inerte caído no asfalto!

Depois de certificar-se que a passageira estava bem, o taxista desembarcou e correu em socorro ao rapaz. Passados apenas alguns segundos do acidente, o corpo já estava cercado por algumas pessoas. Um grupo de garotos conferia o estado da vítima. Quando o taxista aproximou-se, um deles chutava o rapaz atropelado, como se procurasse por algum sinal de vida! Um absurdo!

Com a chegada do taxista, os garotos que rodeavam o atropelado dispersaram, saíram de fininho, sumiram. Deixaram para trás o corpo no asfalto, o taxista tentando verificar os sinais vitais e a passageira em prantos, tentando ligar para o socorro. Aos poucos, outras pessoas foram chegando. Apesar de não esboçar reação, a vítima estava viva.

Passados vários minutos, o rapaz abriu um dos olhos, depois o outro. Ergueu um tanto a cabeça, conferiu a multidão ao redor. O taxista ainda tentou impedi-lo de se mexer, mas ele não deu bola, ergueu-se, ajeitou a roupa, sacudiu a poeira, abriu caminho por entre a pequena plateia que se formara e saiu caminhando sem dizer nada.

O taxista o seguiu. Enquanto caminhava, o rapaz explicou que estava sendo perseguido por aquele grupo de garotos, que queriam matá-lo, que tinha se fingido de morto para não ser linchado por seus inimigos. O atropelamento o salvou!

Dito isso, saiu correndo e sumiu na noite abafada.