A corrida começou na saída de um tribunal. Uma mulher humilde e um homem elegante embarcaram no táxi. Enquanto avançávamos rumo ao centro da cidade, a conversa entre os passageiros me permitiu entender qual era a situação.
O homem era um advogado famoso. A mulher, aparentemente humilde, na verdade era mãe de um rapaz que fora pego atravessando a fronteira com um carregamento de revólveres. Um traficante internacional de armas.
Depois de uma primeira condenação, o processo do rapaz teria ido para um tribunal superior, de onde estavam saindo naquele momento. A missão do advogado teria sido diminuir a pena do traficante neste segundo julgamento. Para isso, teria recebido uma pequena fortuna da mãe do bandido, que, aparentemente, tinha acesso ao dinheiro do filho. A conversa entre os dois era amistosa, mas tensa. A mulher não tinha nada de ingênua.
O advogado lembrou que teria avisado à mulher, que ela precisava torcer para que o caso do filho dela não fosse julgado pelos juízes da “segunda turma” do tribunal. Ele teria advertido que, das três turmas, a segunda era composta pelos juízes mais severos. A mulher garantiu que teria feito mais do que apenas torcer.
Mas o processo caiu justo na segunda turma e o rapaz pegou uma pena lascada.
Depois de deixar o advogado no Centro, a mãe do bandido pediu que eu tocasse para o Bairro Medianeira. Ela precisava ter uma conversa com um certo religioso incompetente. Segundo minha indignada passageira, ela teria pago horrores a um feiticeiro para que o caso do filho não caísse na maldita segunda turma. Um despacho pesado, com a “segunda turma” costurada na boca de um cabrito sacrificado e tudo mais.
Ela reconhecia que o advogado tinha feito o seu trabalho, mas não perdoava o feiticeiro: não conseguiu acertar duas em três alternativas!
Esse tipo de reclamação não se faz no PROCON. Deixei a mulher em frente à casa do tal feiticeiro e saí fora. Aposto que a coisa esquentou por lá.
Um comentário:
É cada uma que acontece!!
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