O caso do carro perdido

O clima entre meus passageiros não era dos melhores. Eles já entraram no táxi discutindo. Um deles entrou pela porta de trás e o outro sentou ao meu lado. Um casal gay. Eles eram do interior do estado, procuravam um apartamento para alugar. Estavam de mudança para Porto Alegre.

Segundo um deles, já era o décimo táxi que pegavam. Tinham rodado a cidade toda, passado por todas as imobiliárias, visitado “milhares” de apartamentos e seu companheiro não gostava de nenhum. Estava à beira de um ataque de nervos. O calor infernal que castigava a cidade não ajudava muito. No banco de trás, o outro apenas roía as unhas e olhava pela janela com pose de esfinge.

Mas a coisa começou a ficar realmente tensa quando eles resolveram que não visitariam mais nenhum apartamento, pelo menos naquele dia, estavam exaustos, precisavam relaxar, tomar uns drinques, dar um rolé pela cidade. Pediram que eu os levasse até o estacionamento onde tinham deixado o carro deles.

Quando perguntei o endereço do tal estacionamento eles se olharam por alguns segundos, em silêncio. Um deles pegou um papel que trazia no bolso, que tinha recebido ao entregar o carro. Um papelote em branco com apenas a placa do carro e o horário de entrada escritos a mão!

Meus passageiros ficaram histéricos quando perceberam que não tinham a menor ideia de onde ficava o estacionamento. Estabeleceu-se o caos, o clima desandou de vez. Baixaria!

Precisei estacionar para restaurar a ordem dentro do táxi. Eles precisavam pensar. Passar algumas pistas sobre o local onde tinham estacionado. Um deles lembrou do recepcionista do estacionamento - os olhos claros e tal. Não ajudou muito, quase voltaram a brigar. Mas o outro lembrou que, assim que deixaram o carro, caminharam por uma rua linda, um túnel verde de árvores muito altas onde podia-se ouvir o canto dos pássaros. Tipo a entrada do paraíso.

A rua mais linda do mundo! Gonçalo de Carvalho. Bingo!