O sujeito que embarcou era um tipo comum, nada que chamasse a atenção. Depois de um cumprimento padrão, pediu que eu o levasse até o Jardim Vila Nova. Uma corrida longa, portanto.
Como seria de se esperar, o passageiro puxou conversa. Comentou sobre a insegurança da minha profissão. Um assunto mais ou menos padrão, que eu respondi sem muita empolgação, esperando por um próximo tema. Mas o homem parecia interessado na matéria. Enquanto regulava a pulseira do relógio, disse que trabalhava em um banco, que também era vítima dos “bandidos”.
Meu cliente falou que a maioria de seus colegas de banco tem medo de dizer onde trabalha, temem os sequestradores. Seu gerente teria proibido que ele indicasse seu cargo aos clientes. Pediu que se referisse a ele apenas como “meu colega”. Mas meu passageiro tinha dúvidas se adiantava alguma coisa. Os bandidos controlam, estudam, descobrem tudo, argumentou.
A princípio, concordei com tudo. Fiz alguns comentários genéricos, enquanto o sujeito abria e fechava a pulseira do relógio, que parecia estar lhe apertando. Minha ideia era dar o assunto por encerrado, mas o passageiro voltava a falar dos bandidos. Saco.
Lá pela quinta vez em que meu cliente comentou que os bandidos controlam tudo, estudam, descobrem quem é o gerente, eu comecei a perceber que tinha um desequilibrado ao meu lado. Desisti de fazer comentários, apenas torcia que ele desse por resolvida a regulagem da maldita pulseira. Só que não.
Tentei desvirtuar o assunto: será que chove? O homem deu uma olhada para o céu e suspirou. Nada. Voltou a falar que não adiantava se cuidar, que os bandidos controlam, descobrem tudo… E dê-lhe regular a pulseira do relógio!
Mesmo depois de pagar a corrida, o cara continuou falando dos bandidos. Eu permaneci indiferente, tamborilando os dedos no volante, até que ele se foi. Talvez tenha percebido que minha paciência acabou ao desligar o taxímetro.
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