O taxista devia ter desconfiado daquela noite. A chuva fina no para-brisa, sirenes nervosas, o giroflex das viaturas da polícia. A cidade parecia querer dizer que algo de ruim estava por vir. Por volta das duas da manhã, um passageiro bateu no vidro do táxi. Finalmente uma corrida.
Um garotão, vinte e poucos anos, precisava ir a Gravatai, ida e volta. Precisava falar com alguém, coisa rápida, logo voltariam para a Capital. O rapaz mostrou a carteira de trabalho, estava bem arrumado. O taxista jogou o preço lá em cima, na esperança de não fazer a corrida, mas o garoto aceitou. Vamos nessa.
Foi uma corrida tensa, o rapaz disse apenas que tinha trabalhado até há pouco, que precisava pegar uns documentos com a ex-mulher, para uma audiência no dia seguinte… Que seja.
Chegando em uma vila pobre de Gravatai o rapaz pediu que o taxista esperasse e entrou em um casebre forçando a porta. Logo começou a gritaria. Ele ameaçava matar a ex-mulher. Barulho de coisas caindo, criança chorando. Não demorou aos cachorros começarem a latir, a aparecerem os vizinhos. Confusão.
Arrancaram o cara de dentro do casebre. Ele voltou para o táxi prometendo voltar.
No retorno a Porto Alegre, o rapaz caiu em prantos. Lamentava ter batido no próprio filho. Logo, porém, calou-se. Um silêncio pesado se abateu sobre passageiro e motorista. A chuva apertou.
Na chegada, o rapaz pediu que o taxista esperasse, pois ia pegar o dinheiro. Entrou em um beco escuro e sumiu. Em uma rua mal iluminada, altas da manhã, o taxista cansou de esperar. Estava prestes a partir quando chegaram dois homens mal-encarados. Diziam-se chefes do tráfico. Diziam conhecer o rapaz que o havia logrado. Prontificaram-se a entrar no beco e trazer o safado pelos cabelos. Não admitiam sujeira na vila deles.
O taxista agradeceu imensamente a ajuda, mas preferiu perder a corrida. Tinha visto coisas demais para uma noite apenas. Desligou o taxímetro e foi para casa.
Apesar de cansado, custou a achar o sono.
6 comentários:
trabalhar
não receber
ficar deprimido....
aqui o único a ganhar
foi o escritor
Oi Mauro, que coisa! Depois da confusão que armou o sujeito ainda tem coragem de sumir sem pagar o taxi! Mas graças a Deus que o taxista chegou à casa são e salvo. Um óptimo dia para ti. Beijinhos
Num caso como esse só faria a corrida com pagamento adiantado. O que não garante que o bandido nos assalte na volta.
Devia ter deixado os "manos"buscar ele......
Devia ter deixado os "manos"buscar ele......
Mauro, taxista experimentado, entrou nessa fria.
Eu desconfio de quem fala demais, diz que pode, que é o cara.
No final, rendeu uma estória. pelo menos.
Abraço.
Ricardo Mainieri
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