O taxista parou para um casal. A mulher sentou-se na frente, o que não é usual. O homem, antes de embarcar, ajudou-a a colocar o cinto de segurança. A mulher mantinha o olhar fixo, quieta, como se estivesse hipnotizada. O homem sorriu amarelo para o taxista e sentou-se atrás. Zona Sul.
A mulher, meio escabelada, levava uma velha boia de caixa d’água na mão. Uma haste enferrujada com uma bola de plástico na ponta. A corrida seguiu tranquila até que ela começou a bater com a boia na perna. Primeiro de leve, depois com mais força.
O homem tentou acalmá-la. Argumentou que logo chegariam em casa. Ele explicou ao taxista que a mulher sofria “dos nervos”. Disse que ela tomava remédios controlados, Fluoxetina, Gardenal... Falou que não tinha conseguido a medicação no posto de saúde, por isso a mulher estaria descompensada.
À medida que chegavam ao destino, a situação começou a fugir de controle. A mulher passou a bater com a boia no painel do carro, passou a perguntar pelo filho, primeiro sussurrando, depois aos gritos. O homem tentava tirar a boia das mãos dela sem sucesso. Confusão.
Pararam em uma vila pobre. O homem desceu e soltou o cinto da mulher. Ao ver-se desvencilhada, ela saiu correndo, mas tropeçou e caiu. O homem ajudou-a a levantar-se. Ela, então, entrou em um beco correndo. O homem fez sinal para que o taxista aguardasse e foi atrás da mulher. Na entrada do beco, um velho assistia a cena sorrindo. Maldito!
Depois de aguardar por algum tempo, o taxista desistiu de esperar e partiu. Achou que aquele pobre homem já tinha problemas demais vivendo no fundo daquela favela com uma mulher surtada. O valor da corrida era só um detalhe diante de tudo aquilo.
De volta ao seu ponto, contando essa história, o taxista descobriu que outros colegas já haviam caído no mesmo golpe. Uma encenação que o casal faz para não pagar a corrida.
Aquele velho na entrada do beco, na verdade, sorria por já ter visto a cena várias vezes.
8 comentários:
esta não tem como escapar
artistas dignos do Soleil.....
e tudo por talves
vinte "pilas"
pra ti
deve ter valido
como "material"
pra esta cronica
sou solidário contigo
VALEU....
Em alguns casos, não temos que achar que caímos em um golpe. Simplesmente pagamos o couvert artístico. Pensa no trabalho que eles tiveram pra pensar no golpe.
Se, daqui de casa, apenas lendo a crônica, eu também caí no golpe. Imagina o taxista vendo todo esse mise en scène.
Rapaz, a criatividade humana para dar golpes não tem limites.
Impressionante como as pessoas não tem consciência de como prejudicaram o taxista, pelo que ele fez e pelo que deixou de ganhar se atendesse uma pessoa honesta.
KM
Inacreditável. Se só faltava inventar essa, já esta inventada...
Verdadeiros artistas!
Essa só escrevendo por extenso: PUTA QUE OS PARIU!
Abraços geladitos.
Eu chamo isso de "gentinha"
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