domingo, 2 de junho de 2013

Mais amor, menos motor

Parei o táxi no sinal fechado. Uns trinta segundos, se muito, para dar uma conferida na féria, achar uma estação de rádio descente. Mas uma ciclista parou entre os carros e a calçada, e me fez esquecer de tudo, conquistou minha atenção.

Enquanto esperava que o sinal abrisse, a ciclista parecia mexer em um tocador de música que trazia preso à cintura. Uma garota alta, pernas bem torneadas, cabelos crespos, longos. Usava uma roupa comum, jeans e camiseta, uma mochila nas costas. Sua bicicleta parecia antiga, daquelas com guidão de corrida, pneus finos e pintura gasta.

Eu apreciava justamente a discrição da bela garota quando entra em cena um segundo personagem. Um ciclista espalhafatoso. Com roupa colorida, cheia de patrocínios, capacete com retrovisor, luvas e aquelas bermudas justas que contém uma almofada na bunda - coisa mais feia. Ele parou ao lado da garota e começou a se exibir para ela.

O ciclista não apoiou os pés no chão. Ficou parado, equilibrando-se sobre a bicicleta por conta de sutis movimentos de pedal, guidão e freio. Enquanto o cara executava aquela espécie de dança do acasalamento ciclístico, a garota mostrava-se indiferente. O pavão da bicicleta colorida não parecia ser seu tipo.

Mas foi quando o sinal abriu que a verdadeira história teve início. Do volante do meu táxi, assisti ao desenrolar do pequeno espetáculo sobre duas rodas.

A garota partiu decidida, pedalando forte. O espalhafatoso, pego de surpresa pelo sinal verde, partiu atrás dela. Ele ficou em pé nos pedais, para recuperar o terreno perdido. Encostou na garota com algum custo, mas ela, impassível, seguiu aumentando o ritmo. Aos poucos, foi deixando o colorido para trás. Patético, ele tentou de tudo, mas acabou desistindo de acompanhá-la...

Feliz com o desfecho da trama ciclística, acelerei o táxi e passei pelos dois. Ao colorido, meu desprezo; à ciclista dos longos cabelos crespos, meu muito obrigado pelo breve show.

7 comentários:

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

não suporto esses bicicleteiros, adoram fazer o showzinho deles e atrapalhar o trânsito

Inaie disse...

E os pavões se multiplicam...

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

hoje vi umas pichações com os dizeres "+ amor, - motor", e é esse tipo de "intelectual" que pede respeito aos ciclistas desrespeitando o patrimônio alheio...

Elaine Pacheco disse...

Mauro, com este texto, você fez eu acordar no domingo já dando risadas. Muito bom ler e rir ao mesmo tempo. (:

"Há braços"

Ricardo Mainieri disse...

O cronista é um observador do cotidiano, sem a menor dúvida.
E estas pequenas cenas são grandes para mostrar coisas importantes como a vaidade,a simplicidade e o espírito sexual e agressivo.
A sociedade capitalista colocou a competição muitos pontos acima da cooperação.
E, assim, vendo o outro como desafio ou presa vamos vivendo.
E observando.

Abraço.

Ricardo Mainieri

Unknown disse...

Ano passado desisti do carro e adotei a bicicleta. Foi uma das minhas melhores decisões. Se o táxi é bom lugar para observar os pasasgeiros, talvez a bicicleta seja melhor para observar o externo. Vários contos meus já brotaram pedalando. hehehehe.
Muitos ciclistas criticam TODOS os motoristas, se esquecendo de que tendo carro ou tendo bike, somos reflexo de nossas personalidades. Quantos ciclistas já vi desrespeitando pedrestres, quantos ciclistas já vi como o relatado por você.... pavoneando por aí... rs. Um abraço!

nofundodagaveta disse...

Sê mais humilde, pavão!