O acidente não chegou a ser notícia no jornal. Uma pequena nota de rodapé. Apenas mais um carro que se espatifa na Via Dutra, rodovia que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. O motorista perdeu o controle do carro e colidiu contra um muro de proteção. Morte instantânea. Foram encontradas duas garrafas de cachaça dentro do veículo.
O que chamava a atenção no acidente era a procedência do carro, um Fiat Siena laranja, de Porto Alegre. Um táxi. A pergunta que intrigava a polícia é o que estaria fazendo um taxista gaúcho, embriagado, tão longe de casa, em alta velocidade, sozinho em seu táxi?
Eu sei a resposta.
Seu nome eu não sei. Poucos sabiam. Todos o conheciam por China. Diziam que tinha sido proprietário de uma das melhores academias de artes marciais de Porto Alegre. Que seu sócio o teria passado para trás, que teria falido e, por falta de alternativas, acabou no táxi, trabalhando como empregado no turno da noite. Entre uma corrida e outra, pelos pontos escuros da cidade, praticava golpes de Karatê contra inimigos imaginários. Este era o China.
Segundo me garantiu um colega próximo, o que teria levado o taxista até seu fim trágico em uma rodovia paulista seria uma grande paixão. China era apaixonado por sua mulher, que, dizem, era belíssima. Mas sua esposa teria se envolvido com um carioca. Teria fugido para o Rio de Janeiro com o amante. China não aceitava o fato. Procurava alívio na bebida.
Corroído pela saudade, China teria enchido o tanque do táxi, comprado uma garrafa de cachaça e partido rumo ao Rio de Janeiro em busca da mulher amada, de uma explicação, que fosse. Depois de rodar mais de mil quilômetros, de reabastecer o táxi e comprar mais uma garrafa de cachaça, acabou sua louca jornada em uma curva da estrada.
Um motorista, praticamente em coma alcoólica, que voa contra o concreto. Não é um acidente. Os restos retorcidos do táxi não deixam dúvidas. Mais do que encontrar sua mulher, China procurava a morte.
9 comentários:
Pobre China
:(
Baita post. Resta a mensagem: Ao se decepcionar no amor, não beba; se beber,não dirija.
Ééé... ninguém é merecedor de uma bebedeira, eu diria! Muito menos alguém que fugiu com outro... Mas o personagem era um daqueles que nasce pra sofrer... coitado!
Silvia
Acho que conheci o China. Que morte estúpida .
Ótimo texto!
Interessante. Mistura trágica...
Cada um procura o seu destino, isto é fato. O que as pessoas se esquecem é que uma boa bebedeira acaba levando ao destino trágico, o que via de regra podemos evitar: basta não ser imprudente e não beber.
Cada um procura o seu destino, isto é fato. O que as pessoas se esquecem é que uma boa bebedeira acaba levando ao destino trágico, o que via de regra podemos evitar: basta não ser imprudente e não beber.
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