Enquanto os jovens tomavam as ruas da Capital em uma marcha cívica que deve entrar para a história, enquanto minha filha carregava seu cartaz com um verso de Chico Buarque em meio a multidão de manifestantes, eu tratava de resolver meus próprios conflitos. Meu táxi havia batido na traseira de outro táxi. Naquele momento, para mim, não havia no mundo um problema mais urgente a resolver.
Tanto meu parceiro Danilo quanto o outro taxista resistiram bem à pancada, apesar de doloridos. Quanto aos carros, não se podia dizer o mesmo. Depois de liberar o outro táxi com meu pedido de desculpas e o telefone do seguro, eu precisava remover meu pobre veículo. Apesar da dianteira amarrotada, julguei que conseguiria levá-lo rodando até em casa.
Eu estava no meio da Avenida Goethe, preso em um congestionamento monstro, sob uma chuva torrencial, quando o táxi resolveu que não seguiria adiante. Apagou. Alguma coisa sob o capô amassado pifou. O jeito era empurrar.
Havia um pequeno aclive a ser vencido até chegar em uma descida. Eu e Danilo nos pusemos a empurrar. Depois de vencermos alguns metros, nosso gás acabou, a perna tremeu, o braço frouxou. Tínhamos uns 50 metros até a descida e o táxi pesava, literalmente, uma tonelada. Quando tudo parecia perdido, surgiu um braço amigo disposto a ajudar.
O homem empurrou com força. O carro ganhou velocidade. Enquanto eu me preparava para pular para dentro do táxi, com a ladeira chegando, o cara me gritou:
- Estamos tendo um dia difícil, acabo de perder minha carteira com todos os meus documentos...
O táxi pegou no tranco. Com toda a Goethe buzinando, me pressionando a seguir em frente, apenas coloquei o braço para fora, com o dedo polegar esticado para cima. Espero que este gesto tenha conseguido expressar toda minha gratidão àquele cidadão anônimo, que esqueceu por um segundo seus próprios problemas para ajudar a um desconhecido.
Jamais vou esquecer esta manifestação. O Brasil tem jeito.
8 comentários:
Esta é a prova que o ser humano é bom por natureza. Mesmo num péssimo dia, ele de algum modo imaginou/ ou entendeu que naquele momento o seu estava pior que o dele, e assim se dispôs a dar uma mãozinha. Bendita mãozinha.
Meus olhos marejados ao ler o último parágrafo. Que lindo!
O que mais gosto é que suas historias são reais e esta nos prova que nem tudo está perdido. Ainda existe muita gente solidária.
O que mais gosto é que suas historias são reais e esta nos prova que nem tudo está perdido. Ainda existe muita gente solidária.
mauro, todas as vezes que eu fiquei engastalhada ( desde um pneu furado até a vez que eu tive um aborto espontaneo, na Australia, poucas semanas depois de ter chegado lá...) um anjo caiu do céu pra me ajudar.
Todas as vezes - sem excessão!
Há pessoas assim. O brasileiro quanto mais simples e com mais problemas, costuma ser mais solidário. Rico, sem problemas não é generoso, tão pouco solidário. Por que será?
Boa! Sem alarde...
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