Tudo parecia uma grande loucura. Parecia um filme ou coisa parecida, uma pegadinha, alguém estava aprontando pra ela, devia haver alguma câmera escondida. A mulher não acreditava que estava passando por aquela situação. Mas tudo era infelizmente muito real: os bandidos, o revólver em punho, as ameaças de morte. Pelo menos os ladrões tinham sumido.
A situação era ridícula: amarrada com a própria meia-calça a um taxista desconhecido em uma estradinha de terra entre o nada e lugar algum. Perdidos na noite em algum canto da Zona Rural de Porto Alegre. Um filme de terror. No fundo, o pânico não deixava que ela raciocinasse direito. Só torcia para que os assaltantes não voltassem.
Maldita hora em que ela correu em direção àquele táxi com películas escuras nos vidros. Estava chovendo, não queria se molhar, entrou correndo no táxi, nem viu se estava ocupado. Nem poderia ver com aqueles vidros escuros horrorosos. O carro não só estava ocupado como o taxista estava sendo assaltado. Um dos bandidos apenas desviou a arma da cabeça do motorista e apontou para ela enquanto o outro ordenava que a “corrida” continuasse.
Passageira e taxista foram abandonados em uma estrada de chão batido distante de tudo. Ficaram apenas com a roupa do corpo, amarrados um ao outro pela meia-calça da mulher. Uma espécie de chacota que os ladrões bolaram antes de embarcarem no táxi e sumirem na escuridão. O ronco do motor se perdendo na distância. Depois, o silêncio. O coaxar dos sapos. Ao menos a chuva havia parado.
Foram encontrados por um carroceiro ainda de madrugada. O homem puxou uma faca enorme que brilhou à luz da lua. Mais uma vez ela pensou que ia morrer. Foi o único jeito de soltar a meia-calça. Cortando-a. O dia amanheceu com passageira e taxista sendo conduzidos em uma carroça imunda até o telefone mais próximo, onde providenciaram resgate.
O taxista nunca mais usou insulfilm, a passageira tem evitado as meias-calça.
7 comentários:
Foi com vc, meu querido?
Boa pergunta! Também fiquei curiosa!
Mais um belo texto.
Que 'curiosas' estas tuas leitoras, hein Mauro?!? Querendo descobrir o teu lado 'oculto' [Rsrs].
Advogando pelo missivista: Não! não foi o Mauro...! Ele não usa protetores proibidos nos vidros do seu táxi... Transparência total!!! [em contraponto ao público estatal].
Mas a meia-calça da passageira [des]afortunada do colega do Mauro, é hoje o seu maior troféu: usa-a diuturnamente ao redor do pescoço como se fosse o símbolo maior de um outrora maragato.
Minha implicância com insulfilm (esse acessório brega tipicamente brasileiro) beira à patologia. A gênese desta história é remota, nem lembro bem quem contou, mas me foi passada como real. Enfim, o fato de ser real ou não, não importa.
Há braços!!
Ainda bem que não eram meias Vivarina, senão estariam presos na meia-calça até hoje. hehehe
Se esses casos não fossem tão terríveis, você teria aqui um grande roteiro.
Abraço.
Acho uma coisa tão besta carro com insulfilm.
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