Nestes vinte e muitos anos de táxi, talvez possa contar nos dedos as vezes que faltei ao trabalho. Sou compulsivo, disciplinado, desde pequeno - quando criança detestava faltar à escola. Um chato. Depois que virei pai, então, essa neura piorou. Responsabilidade.
Mas hoje estou em casa, doente, escrevendo este texto em pleno horário de trabalho. A gripe me derrubou. Mesmo escrever é uma tarefa penosa quando se está com o corpo dolorido, mas fui puxado para o teclado. Uma garota do Ceará tirou-me da cama, resgatou-me pra vida. Recebi seu email como uma Benzentacil, uma Loratadina na veia. Em sua mensagem ela diz que chorou em um táxi e lembrou-se de mim. Isso em Fortaleza!
Casualmente, hoje é 23 de maio de 2013. Há exatos dez anos, eu publicava meu primeiro texto no Diário Gaúcho. Surgiam os blogs e eu fundava o Taxitramas. Desde lá, venho perseguindo esse arremedo de literatura semanal, tanto no jornal como na Internet. Parabéns - antialérgico e antibiótico no lugar de bolo. A garota do Ceará chorou no escuro do táxi, voltando de uma festa, porque ainda não tornou-se a escritora que sonha ser. Nem eu, tão pouco.
Mas nós teimamos em escrever, eu e minha amiga virtual. Nas horas vagas, como hobby, que seja, ou no horário de trabalho (entre uma corrida e outra), eu no meu blog, ela no Três Paredes, isso é tipo uma doença, eu acho. Ou um tipo de remédio, que nos tira da cama, nos faz ir em frente.
Minha amiga chorou em um táxi em Fortaleza e o taxista não notou. Ela, então, lembrou de mim, que não perderia a oportunidade para escrever sobre a passageira que chorou. E, indiscreto, publicaria suas lágrimas no jornal, no blog. Porque é infinita a dignidade de uma mulher que chora em silêncio.
Várias vezes pensei em parar de escrever, nesses 10 anos. Mas mensagens como a da minha amiga cearense me levam adiante. Ela tão jovem, eu cinquenta. Ela lá, eu aqui. A literatura nos conecta, seca as lágrimas, cura a gripe.
12 comentários:
Bom texto. Saúde é o que te desejo. Só fiquei triste de saber que só as lágrimas da moça de Fortaleza é que te animam a não parar. Eu é quem vou parar de te ler e comentar, já que não choro. srsrs
Mauro, meu amigo virtual, você me deixou sem palavras. Como expressar meu agradecimento e tamanha felicidade pela singela homenagem? Não sei, mas fico aqui com a alegria de ter conquistado o amigo escritor que eu admiro tanto. (:
"Há braços" =)
infelizmente não te conhecia até você citar a minha amiga querida e ela me passar o link do seu blog. agora, o blog está devidamente salvo na minha barra de favoritos, pra sempre te fazer uma visita quando o trabalho estiver enfadonho demais! parabéns! =)
A Elaine compartilha - da forma mais encantadora - as coisas boas e lindas dessa vida. E olha que eu a conheço há poucos dias, nem sou tão suspeita assim para falar isso. A exemplo, compartilhou comigo seu blog. Tu ganhaste a Elaine como amiga e me ganhaste como leitora. Tens toda razão, a literatura tem dessas coisas.
"Porque é infinita a dignidade de uma mulher que chora em silêncio."
"A literatura nos conecta, seca as lágrimas, cura a gripe."
Vou dormir com a beleza dessas palavras *.*
por que parar
parar porque
se tem tanta gente
que lê você.......
porque....etc etc,,,,,
estribilho
a musica tu põe a noite usando o piano que vi em sua casa.......
na letra sugerida usei "você" ao invés do "tu"
por rimar melhor......
haja braços....
Êta gripe que se expandiu do Sul ao Nordeste!
Na tua [breve] enfermidade, perdeste a 'féria' Mauro, mas ganhaste novos admiradores e leitores 'lá de cima do mapa', e isto tem muito mais valia.
O blog 'Três Paredes' agora faz parte dos meus 'favoritos'.
Espero que esteja melhor agora. É difícil parar de escrever um blog. Tornou-se como um dos seus filhos. Ele também permite que você para liberar vapor!!
Parabéns pelos dez anos de coluna e de blog. Desde que comecei a ler o Taxitramas, nunca mais olhei um taxista do mesmo jeito. Sempre acho que ele pode estar com um bloquinho de anotações escondido e que contará - ou imaginará - a minha história em um blog.
E parabéns também pelo texto de hoje. Muito bom!
Abraço!
Maykon
E você não perdeu a chance de escrever sobre o choro da menina, mesmo nao o tendo presenciado...
É difícil imaginar o que um taxista poderia dizer a uma passageira que chorasse em silêncio... A maioria sairia com frases feitas, lugares comuns, pois quantos tem a sensibilidade de um escritor? Eu choraria ainda mais, de raiva... rsrsrs
Silvia
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