domingo, 12 de maio de 2013

A elegante e a fofinha


Parei o táxi em frente à porta do edifício de tijolos à vista e esperei. Sabia que, em instantes, a porta se abriria e sairia por ela minha passageira. A elegante ou a fofinha.


Trabalhando no mesmo ponto de táxi há muitos anos, conheço bem os passageiros do bairro. Muitos deles, conheço pela voz, ao atender o telefone. Não é o caso deste prédio de tijolos à vista da rua Barbedo onde temos duas passageiras que ligam pedindo táxi. As vozes das duas são muito parecidas, impossível saber quem vai sair pela porta.

As duas passageiras são jovens, e igualmente belas - como já disse o poeta, beleza é fundamental. Não sei o nome delas, são garotas reservadas, pouco falam. Para que minha cabeça possa se organizar, eu, intimamente, penso nelas como a elegante e a fofinha. Feministas, revoltai-vos.

Uma tem um corpão esculpido em academia, a outra está um tanto acima do peso. A primeira está sempre bronzeada, indo para o clube. A segunda, estuda para concursos, pega pouco sol, usa o táxi apenas para ir para as provas. Sempre que paro em frente ao prédio, fico na expectativa de quem sairá pela porta. A elegante ou a fofinha.

Fazia um bom tempo que não atendia ao chamado de nenhuma delas - e como já disse um outro poeta, o tempo não para. Quando a porta se abriu, acho que meu queixo caiu alguns centímetros. Surpresa!

A corrida foi para o Tribunal de Justiça. Nossa passageira passou no concurso, está muito bem empregada, radiante. Está até comunicativa, brincando com o taxista. Não admirou-se quando comentei sobre sua notável mudança. Divertida, comentou que a dieta realmente fez milagres, mas que o principal foi fazer as pazes com ela mesma. E com o mundo, por consequência!

As duas passageiras do prédio de tijolos à vista agora estão magras, mas, na minha cabeça, o título de elegante passou para a ex-fofinha. Ao revelar-se Inteligente e bem-humorada, ela mostrou que a verdadeira elegância não é uma questão de peso.

7 comentários:

Anônimo disse...

Simpatia, e alegria a balança não pesa, mas faz muita diferença.

Letícia Motta disse...

Adoro seus textos. Acho que merece um livro. Já existe? :)

Letícia Motta
Editora do blog Cutedrop
http://www.cutedrop.com.br

Unknown disse...

hehehe. A linguagem politicamente correta ficou bonita.

Mas um "gordona" teria tido muito mais impacto.

;)

Clarice disse...

No mais tudo gira em torno do olhar.
Como vai avida por aí?
Abraço.

Silvia disse...

Muito bom! Demonstra a delicadeza do espectador, já que é natural rotular as pessoas,e cada um a seu modo!

Inaie disse...

E qual é agora o apelido da ex elegante?

Telma disse...

Oi Mauro, os teus textos são fantásticos, eu gosto muito de os ler. Um óptimo dia para ti. Beijinhos