domingo, 21 de abril de 2013

Sobre passageiros cansativos


O  telefone do ponto chama. Do outro lado da linha, ouço um pequeno soluço antes da solicitação de um táxi. É um passageiro que liga todos os dias. Já o conheço bem. Ele sempre dá o mesmo soluço antes de começar a falar. Apenas pelo soluço, já sei quem é, para onde vai e qual será o assunto durante a corrida: críticas ao governo.


O homem já embarca criticando alguma coisa. Políticos e governos em geral são seus alvos prediletos, mas, na verdade, ele fala mal de tudo. A baixa qualidade dos programas de tevê, as roupas dos jovens, a indústria nacional... nada presta para ele. Resumindo: é um chato. Nas raras vezes em que a esposa anda com ele, pede ao taxista que faça o favor de ligar o rádio. Assim, o marido entende que deve calar a boca.

Tem também a passageira que só fala em doença. As corridas são sempre para alguma consulta médica. Ela está sempre em busca de um especialista que alivie suas dores. Antes mesmo de embarcar, ela avisa: “hoje, meu esporão de calcâneo está me matando”. Ela entende tudo de doença. Sabe mais que os médicos. Quando seus próprios males aliviam e o taxista pensa que o assunto será outro, a mulher passa a informar sobre a saúde da mãe, uma velhinha que também vive doente. No momento, a idosa está com uma “contratura intraglúteos”. Travou a musculatura da bunda devido a uma injeção mal aplicada. Um horror, que minha passageira descreve em detalhes.

São passageiros previsíveis, cansativos. Como o senhor que adora Vectra, o veículo da Chevrolet. Meu passageiro só sabe falar deste carro. Já teve vários deste mesmo modelo. O Vectra é uma “joia sobre rodas”. Toda a corrida falando das malditas qualidades do Vectra.

Ai você tenta desvirtuar o assunto com algum comentário sobre, por exemplo, a chegada do inverno. O primeiro critica as ridículas campanhas do agasalho, a segunda prevê uma nova crise de asma. O último, claro, discorre sobre o incrível sistema de calefação do... Vectra!

7 comentários:

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Sempre tem uns que quando começam a falar de doença fazem quem está ouvindo começar a se sentir mal, é uma coisa estranha mesmo... Convenhamos que desse jeito é melhor falar de Vectra que de doença...

Unknown disse...

Meu pai é chato em dobro. Tem mania de doenças e anda bem reacionário, falando mal de tudo... rs

Anônimo disse...

Os passageiros chatos, os "mala" deveriam ir no porta-malas, pois é para eles que ele existe.

Clarice disse...

Oi, vizinho! Como tem passado?
Pois e esse negócio de companhia de viagem é de matar mesmo. Aceitei carona com uma mulher que fez parte da cúpula do Pt. Adivinha a melodia. Fujo dela como o diabo da cruz.
Abração e bom inverno, hahaha!

Maykon disse...

Imagino os três trancados em um Vectra, espirrando e falando mal do mundo... Pula fora dessa turma.
Ótimo texto! Abraço!

Anônimo disse...

Todo mundo é um chato em potencial.
Só que alguns insistem em suas chatices, como se quisessem treiná-la ao seu potencial máximo. Repetindo, repetindo, vitrola quebrada, vitrola quebrada... ah! Chega, já tô ficando chato.

Bom blog, pretendo visitar mais vezes para mais histórias!

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Ligar o rádio parece que seria uma boa alternativa, em todos esses casos! rsrsrsrs