Pouco antes do meio-dia. Parecia só mais um passageiro me fazendo sinal na calçada da Rua Duque de Caxias. Um jovem de bermudas, branco, aparentando uns 20 anos. Depois que parei, enquanto o rapaz embarcava, outro homem, negro, boné e óculos escuros atravessou a rua e entrou pela porta de trás. Ficou sentado às minhas costas.
Não foram poucas as vezes em que pensei que seria assaltado. Passageiros mal-encarados, indo para locais ermos, suspeitos. Alguns, nitidamente drogados, cheirando a álcool. Em nenhuma destas vezes fui assaltado. Ao final destas corridas, senti-me culpado por ter desconfiado dos passageiros que estavam me pagando.
Talvez por isso, acreditei que os dois caras que entraram no meu táxi na Duque de Caxias, em plena luz da manhã, não me assaltariam. O sujeito sentado ao meu lado falava de futebol. Pelo retrovisor, vi quando o cara sentado atrás tirou os óculos por um momento. Ele tinha um olho vazado. E permanecia calado.
Na altura do Ginásio Tesourinha, parei em uma sinaleira, ao lado de uma viatura da Brigada Militar. O sinal abriu e seguimos em frente. Eu me negava a acreditar que seria assaltado. Não queria ser injusto com os passageiros que, até então, não tinham me feito nada.
Passando o Estádio Olímpico, o passageiro de trás me puxou pela gola e espetou alguma coisa afiada na altura do meu rim. Um assalto. Enquanto eu dirigia rumo à incerteza, o sujeito da frente fazia a limpa no táxi. Celular, GPS, dinheiro...
Já no Bairro Glória, avistei outra viatura da Brigada vindo em nossa direção. Senti uma estocada na barriga. O bandido do banco de trás ordenou que eu entrasse em uma rua, evitando que cruzássemos com a PM. Foi preciso decidir rápido. Escolhi dobrar a esquina. A pressão da lâmina no meu flanco cedeu.
No fim, deixaram-me ficar com o táxi e a vida, o que não é pouco. Mas nem sempre é assim. Aos colegas que morreram, minha homenagem. Aos que choram por suas perdas, meu pesar.
4 comentários:
Já passou da hora de acabar com essa palhaçada de "direitos humanos" para vagabundo.
PQP, Mauro. A gente sempre acha que acontece só com os outros. Ainda bem que não levaram a vida. Essa não tem preço. Mas é absolutamente revoltante.E o pior, não há nada que se possa fazer. Pensando agora, retrospectivamente, o que poderia ter feito? Nada. É um absurdo o mundo que vivemos. Minha solidariedade, que é a única coisa a sse prestar nesse momento.
Não consigo imaginar quando as autoridades começarão a tomar providências para impedir que bandidos que já cometeram diversos crimes, entre eles assassinatos bárbaros, continuem circulando periodicamente pelas ruas? Será que não percebem que alguma coisa tem que ser feita nesse sentido. Sou contra a pena de morte exatamente pela incompetência e pelo egocentrismo criminoso dos poderosos, que livrariam envolvidos a eles ligados, mas será que não entendem que é impossível imaginar uma vida mais digna com esse pessoal na rua? O que é necessário para uma mudança? Passeatas, protestos, loucuras? Não tenho esperanças porque os mesmos que pedem providências permitem que incompetentes e insensíveis se mantenham nos postos-chave que permitem essa incongruência. Até quando os presos continuarão sem um trabalho prisional adequado e total para que os presídios não se tornem uma escola do crime e um inferno que derrama em seguida todo o ódio nas ruas?
Infelizmente, Mauro, tiveste teu batismo.
O teu lado politicamente correto falou mais alto e foste roubado. Que bom que te deixaram ir embora!
Eu desconfiaria, seriamente. já fui assaltado 3 vezes e, hoje, quando vejo alguém caminhando devagar e com ar de que não está fazendo nada, passo para a outra calçada.
Embora este fato seja ansiogênico, pelo menos sobrou a literatura, a vida e o alerta.
Abraço e se cuide(queremos revê-lo todas as 2.ªas feiras).
Ricardo Mainieri
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