domingo, 13 de janeiro de 2013

Nêgo Tirso e o bolo voador

Meu colega adotou seu apelido como nome próprio. Costuma apresentar-se à moda James Bond: Meu nome é Tirso, Nêgo Tirso. Ele me explicou que foi sua mãe que começou a chamá-lo assim, desde criança, a ponto de suspeitar que a velha ao morrer sequer lembrava seu nome de batismo.

Nêgo Tirso é um taxista afro-descendente de tamanho (muito) avantajado. Trabalhando como empregado, em táxis de frota, modelos populares, pequenos, meu colega Tirso precisa usar seu banco muito recuado. No limite do trilho, com o encosto bem reclinado, quase encostando no banco traseiro. Mesmo assim, suas pernas ficam roçando no volante.

Apesar da aparência ameaçadora, nosso colega é pura ternura. Uma dama, praticamente. Ele se diverte contando um entrevero que teve no trânsito. Um motorista de uma camionete enorme parou para brigar com o taxista que o havia apertado. Ao ver o Nêgo Tirso descendo do táxi, porém, o homem teria desistido da discussão e batido em retirada.

Mas a história que melhor retrata nosso doce colega é uma corrida que ele fez para uma senhora que carregava um enorme bolo de aniversário. Desses bolos que, de tão grandes, são montados sobre um tabuleiro de madeira. A mulher ia equilibrando o bolo enquanto Nêgo Tirso dirigia com todo o cuidado possível. Acontece que um cachorro atravessou na frente do táxi...

Depois da freada, o bolo estatelou-se contra o painel do carro. A mulher ficou só com o tabuleiro nas mãos, que, indignada, arremessou contra a cabeça de Nêgo Tirso ao sair porta afora. Não pagou a corrida nem a limpeza do carro.

Por uma dessas coincidências do destino, isso aconteceu na Avenida Azenha, bem na altura do Albergue Dias da Cruz. A calçada estava cheia de moradores de rua, que esperavam o horário de abertura do abrigo. Nêgo Tirso disse que não teve dúvida: abriu o táxi e deixou que o pessoal se servisse de bolo.

Meu colega jura que até um parabéns a você foi cantado. Não duvido.

4 comentários:

Dalva M. Ferreira disse...

Olha só que coincidência feliz!

Inaie disse...

azar de uns, sorte de muitos!

Clarice disse...

O que dá pra rir dá pra chorar, certo?
No seu carro ponha o bolo no chão.
Abraço.

vidacuriosa disse...

Nem sempre quando dá bolo é uma coisa ruim.