O passageiro embarcou no táxi com um cacho de uvas na mão. Bem vestido, aparentando uns 40 anos. Destino: Palácio Piratini.
A primeira uva destacada do cacho, o passageiro ofereceu a mim. Agradeci, mas recusei a oferta - não ia pegar uma uva da mão do cara.
O homem explicou que aquele cacho de uvas era o seu café da manhã. O problema é que, enquanto falava, ele chupava as uvas e jogava as cascas pela janela. Mostrei a sacolinha de lixo do táxi, bem ao lado da sua perna, mas ele ignorou solenemente minha observação. Jogou as cascas, uma a uma, pela janela. Naturalmente, jogou também o cacho na rua.
Terminada a refeição, o passageiro limpou as mãos na calça - melhor do que limpar no estofamento, pensei. Feito isso, iniciou um processo de limpeza da garganta. Começou a cuspir para a rua. Ele explicou que fuma demais. O cigarro lhe provoca um catarro danado. Tem que expelir. E dê-lhe cuspir.
Depois de roncar como um porco, reunindo a maior quantidade de muco possível na boca, o homem aproximava o rosto da janela e soltava o catarro em alta velocidade, não importando-se com o destino do projetil.
(Abro um parêntese para pedir desculpas aos leitores pelo tema de mau gosto, e aconselhar aos mais sensíveis que abandonem a leitura nesse ponto pois o pior ainda está por vir. Fecha parêntese).
Dando continuidade ao seu método de desobstrução das vias aéreas, com o táxi em movimento, o passageiro colocou metade do corpo para fora da janela e assoou o nariz. Sem lenço, óbvio, apenas tapando uma das narinas com o dedo. Feito isso, voltou a sentar-se com ar aliviado. Sobras de fluído nasal foram recolhidas com a manga da camisa.
O homem disse que dormira na casa da amante, onde não tinha escova de dentes. Confidenciou-me esse pequeno pecado talvez para justificar o fato de estar limpando os dentes com o dedo indicador...
A idade anda me amolecendo o estômago: só de lembrar dessa corrida, volto a ficar enjoado.
11 comentários:
não sei se uma figura desse nível ficaria melhor num zoológico ou num chiqueiro...
Mauro, ao menos ele não ficou tirando potoca do nariz e colocando embaixo do banco!
Porco desse jeito e ainda tem amante, eca!
Rinite alérgica meu caro! kkkkkk
Muitos colegas mandariam descer do carro! rsrsr
Mauro,
realmente é muito complicado dividir um espaço tão exíguo, do interior de um carro, com um indivíduo desse nível, ou melhor: desnível....
É preciso ser um profissional muito educado para não parar o carro e encerrar a corrida.
imagina o que a pobre da amante não tem que aguentar...
Cidadão bem-vestido, com traquejos de insolência, má-educação, descompostura e rumo ao PALÁCIO PIRATINI... e com um cacho-de-uvas na mão.. e oferecendo a 1a. uva do cacho para o Mauro, e que correta e solenemente recusou... Uau!
DÚVIDAS QUE ME ASSOLAM:
- O indigitado passageiro não seria o LOBO MAU [travestido de CORDEIRO] que foi lá para tentar roubar os TAPETES VERMELHOS dispostos sobre as escadarias do PALÁCIO PIRATINI?
- foi sequestrar a "chapeuzinho vermelho" que lá estava, com a sua avó, a visitar o Palácio?
- ou era apenas um protótipo mal-feito de BARNABÉ estadual sem projeto de vida [e outrora GARI municipal demitido a bem da limpeza, "ops", do serviço público]e que qostava de comer uvas [menos a primeira do cacho], a mulher dos outros, e que também gostava de arrotar, peidar, catarrar e ranhar em ambiente público [o interior do táxi é um ambiente público e de cidadania!!!]?
Se a resposta a minha dúvida for esta última, que eu desconfio, será que ao menos o 'cavalheiro'chegou ao Palácio Piratini no horário legal de início do expediente?
O POVO PRECISA DESSE ESCLARECIMENTO!!!
Gostaria de ver o narrador -protagonista tomar o lugar do passageiro, e escrever sob o ponto de vista desse último. Quem sabe não seria mais interessante.
Ilario
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