Chega uma hora que todos vão para casa, que tudo sossega. A euforia das lojas, toda a correria cessa. Chega uma hora que mesmo as pombas acham seus ninhos. Antes da meia-noite, a cidade fica às moscas. O Centro Histórico, então, é o que mais sente.
O taxista Danilo estava sozinho no ponto do “Guaspari”. Ali onde a Borges de Medeiros inicia, onde, normalmente, pulsa o coração da cidade. Apenas um táxi no ponto, nem um cachorro sem dono circulando, muito menos passageiros. O taxista cochilava ao volante.
As batidas no vidro acordaram Danilo. Achou que fosse a Rádio Gaúcha, que transmitia a retrospectiva do ano. O taxista mal acreditou que um passageiro havia aparecido. Um velho amarrotado, barba por fazer, mas parecia querer um táxi! Abriu a porta. Antes de embarcar, porém, o homem explicou sua situação.
Estava sem grana. Precisava ir até a Vila Nova. Pagaria a corrida, sua esposa tinha dinheiro em casa. O olhar sincero do velho e a falta de passageiros melhores a uma hora daquelas, fez o taxista aceitar a corrida arriscada. Entregou pra Deus.
Enquanto o táxi rasgava as avenidas desertas rumo a Zona Sul, o passageiro contou sua história. Tinha um filho internado em um hospital. Viciado em drogas pesadas, o rapaz acabou levando o velho à falência. Depois de vender tudo o que havia em casa, o filho acabou vendendo um rim e, por fim, caiu doente.
O velho fora visitar o filho no hospital. Acabou dormindo em uma cadeira. Confundido com um paciente, deixaram-no ali até anoitecer. Tinha conseguido condução para o centro da cidade, mas já não havia mais ônibus para a Vila Nova àquela hora. Por isso, o táxi.
O taxista ficou aliviado ao receber pela corrida. Também tinha seus problemas e grana era um deles. Depois de abraçar o velho, desejou-lhe sorte e partiu. O foguetório e as luzes espocando no céu anunciavam a virada do ano. Voltou a ligar o rádio em busca de companhia. Deu-se por satisfeito com Roberto Carlos.
5 comentários:
O menino vendeu o rim?
E a gente acha que essas coisas só acontecem em filme...
:-(
Nao achei que ele ia dar o golpe, quem vai dar balão não avisa que está sem dinheiro... ou avisa?
Feliz 2013 e obrigada pela companhia e pelas histórias tão especiais em 2012.
Mauro,
Que o ano de 2013 seja, no mínimo, igual ao que passou. Afinal, sobrevimos aos anteriores e continuamos podendo prover o nosso sustento, com saúde e disposição para o trabalho.
A vida é bela!!!
Desejo que continues sendo o que tu és: um ótimo motorista e igual cidadão; que sabe como poucos
conduzir-nos com tranquilidade para os destinos que escolhemos; que mantenhas a saúde, a paz, e o amor e fraternidade junto aos teus entes queridos.
Também desejo que contemple os teus leitores, no ano de 2013, com mais 52 crônicas inéditas...
... E lança mais um compilado de crônicas na próxima Feira do Livro, ok?
Feliz Ano Novo!
Um feliz 2013 para ti, para tua família e para todos os teus leitores.
Otimo!
Belo texto, triste e verdadeiro. Sem os fingimentos que andam por aí...
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