A madame ligou o pisca-alerta e mediu a vaga: cabia seu carro. Com folga. Na verdade, até um caminhão poderia ser estacionado ali, mas ela tremeu. Sabia que não ia conseguir. Estava em fila dupla, precisava tentar ou liberar o espaço. Procurou lembrar-se das aulas de auto escola (alinhar o retrovisor, virar toda a direção, engatar a marcha a ré...). Precisava tentar.
Como já previa, foi um fiasco. Acabou com o carro atravessado no meio da vaga, a calota esmagada contra o meio-fio. Já podia imaginar seu marido protestando por ter arranhado a roda do carro novinho que ele lhe dera.
Sem sequer saber para que lado virar o volante, a madame precisava decidir o que fazer. O certo é que não podia perder aquela vaga, bem em frente ao consultório do seu analista. Em desespero, ela notou que um taxista, encostado em seu táxi, observava de braços cruzados sua frustrada tentativa de estacionar. Foi quando pensou em pedir ajuda.
O taxista olhava para ela com um meio-sorriso encorajador, como quem acredita que ela é capaz de realizar a manobra. Talvez não fosse má ideia pedir ajuda. Por certo, aquele maldito taxista colocaria seu carro naquela vaga até de olhos fechados. Mas...
Seria muita humilhação. Recorrer logo a um taxista, um tipo sem classe que a madame sempre desprezou. O homem que a observava, encostado naquele táxi, vestia uma lamentável camisa xadrez. Um horror! O taxista era capaz de arrasar a atmosfera imaculada do veículo dela. A simples ideia daquele homem sentado ao volante do seu carro de luxo a fez desistir da vaga.
Depois de dar a volta na quadra sem conseguir estacionar, a madame voltou ao ponto de partida. Estava irritadérrima. Não havia mais a vaga (estacionaram um caminhão). Nem mesmo o meio-sorriso encorajador havia mais: o taxista sorria com todos os dentes abrindo a porta para uma outra madame mais inteligente, que deixou o carro em casa e veio ao analista de táxi.
3 comentários:
É isso aí!!! Deixem o carro em casa e andem de táxi, a pé, de ônibus ou de metro! Você chega mais rápido, mais barato, e sem stress . Hoje vou almoçar no Bar Dona Onça, no centro da cidade. Vou beber mais de um chopp, com certeza. Vou de táxi, claro!
muito bom! eu detesto estacionar e quando estou em Porto Alegre vou de táxi pra todo lugar!!! ;)
Muito bom o texto!
Em terceira pessoa. Diferente...
Também apoio a campanha "Vá de Táxi!"
Abraço!
Maykon
Postar um comentário