domingo, 17 de junho de 2012

A corrida do desabafo

Eu rodava em baixa velocidade pelo centro histórico da Capital quando surgiu um passageiro, do nada. Creio que o homem respingou de dentro de algum prédio. Eu já ia passando, então ele bateu no vidro do carro com alguma violência que chegou a me assustar. Nem bem eu parei, ele entrou pela porta de trás. Parecia atordoado, estava pálido, jogou-se no banco como quem encontra enfim um refúgio.

Segui rodando devagar, esperando que o homem se acomodasse e desse o destino, mas ele seguia espichado no banco, a cabeça jogada para trás. Perguntei se estava tudo bem. Ele não respondeu. Pediu apenas que eu seguisse em frente, pois precisava colocar as ideias em ordem. Eu podia seguir qualquer rumo.

Foi uma corrida longa e um longo desabafo. Depois de rodar pela cidade, paramos em uma praça onde ele terminou de contar sua incrível história.

Quando pegou meu táxi, no centro, o homem estava saindo de uma clínica de aborto. A mulher que ia submeter-se ao “procedimento” era sua cunhada, com quem ele tivera uma noite de prazer, no verão, enquanto sua esposa estava na praia. A decisão de interromper a gestação teria sido consensual. Depois que o homem começou a passar na sala de espera da tal clínica, a cunhada teria pedido que ele fosse embora, antes que tivesse um ataque de nervos.

Mas a angústia do meu passageiro não ficava por ai. Como se não bastasse ter engravidado a própria cunhada, ele vivia ainda um outro dilema: queria muito ter um filho. O homem contou que, apesar de passar por vários tratamentos de fertilização, sua esposa, que ele amava, não conseguia engravidar...

Essa corrida aconteceu há muito tempo.

Anos depois, o mesmo homem embarcou novamente em meu táxi. Estava saindo de uma escolinha de futebol. Eu o reconheci de imediato, ele não. Sequer me olhou. Não toquei no assunto daquela corrida de anos atrás, pois meu passageiro estava acompanhado de uma criança a quem chamava de filho.

6 comentários:

Bah disse...

Nossa, será que conseguiu ter um filho com a mulher, novamente com a cunhada ou ele argou as duas e tentou a sorte com uma terceira? rsss

Mistééério!

Kisu!

vidacuriosa disse...

Meu palpite é que o casal tenha procurado ajuda médica e psicológica e ele ou ela tenham superado a dificuldade de engravidar.Ou então, que tenham adotado um bebê. O importante é que tenham encontrado solução para o problema. Mas também pode ter encontrado uma outra mulher. Sem irmã atraente.

Anônimo disse...

Ou aquela cunhada, na última hora não fez o procedimento...

Clarice disse...

Cada um com seus dramas. Alguns evitáveis, outros não.
Abraços.

Silvia C. disse...

Se sou eu não sei se conseguiria ficar com a dúvida rsrsrsrs

Inaie disse...

espero que a esposa tenha descoberto. imagina ser traida pelo marido E pela irma...