Há sete anos, eu escrevia, neste mesmo espaço, uma crônica intitulada “Os 80 anos do seu Zé”. Naquela época eu já achava impressionante a disposição do meu colega octogenário, que mesmo com a idade avançada, não dava sinais de que deixaria o volante tão cedo. Um fenômeno!
Essa semana, eu ia por uma avenida movimentada, com uma passageira distraída no banco traseiro do táxi. A pista pela qual eu trafegava estava sendo retida por um veículo mais lento. Pensando em mudar de pista, dei uma olhada pelo retrovisor e quem eu vejo vindo atrás de mim, firme ao volante, com seu táxi também carregado? Ele mesmo: Seu Zé.
Imediatamente, a pressa de livrar-me daquela tranqueira transformou-se em serenidade. Por um segundo, peguei-me filosofando: aquele senhor, do alto dos seus 87 anos, não havia chegado àquela idade à toa. Por certo, a paciência, a calma, eram o grande segredo daquele incrível idoso. E por um segundo fiquei tranquilo na pista em que estava.
Nesse exato segundo, vi pelo retrovisor seu Zé ligando o indicador de direção e dando uma guinada seca no volante. Ele trocou de faixa, reduziu a marcha e acelerou. Passou por mim como uma flecha, deixando os tranca-ruas para trás. Aproveitou o sinal verde e sumiu de vista. Uma aula de direção.
Confesso que há 7 anos escrevi aquela crônica pensando em homenagear meu velho amigo
taxista que parecia aproximar-se da aposentadoria merecida. Mas o tempo parece não ter passado para o seu Zé. Ele continua firme e forte, com uma saúde inabalável, renovando a carteira de motorista com louvor.
Não conheço outro taxista que esteja em atividade com essa idade. Por sorte, ele é meu colega de ponto. Com uma memória invejável, é uma fonte infinita de histórias, ricas em detalhes, muitas das quais já contei aqui.
Eu não sei se vou durar mais sete anos (já ando sentindo o peso da idade), mas se ainda estiver escrevendo essas pequenas crônicas, prometo dar notícias do meu “jovem” colega, que, por certo, ainda estará me deixando para trás com sua vitalidade.
4 comentários:
Muito bom! É bom saber de pessoas que não se sentem velhas e que têm condições de prolongar suas atividades apesar do longo tempo. Gostaria de conhecer melhor a vida desse personagem para aprender com ele. Se eu estivesse em um jornal, certamente faria ou sugeriria um perfil sobre essa figura heroica. Iria querer saber o que ele faz e o que ele fez, com tem sido sua vida, para chegar a essa idade com esse dinamismo. Abrs
A velhice está na cabeça e nos cabelos das pessoas rs..
Kisu!
Exemplos a serem seguidos!Nada de desanimo ou lamentos pela idade! Muito provavelmente ELE nunca pensou nisso!Essa é a receita!
A velhice tá no espírito e nem sempre a tranquilidade é o caminho para ser longevo!
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