domingo, 1 de abril de 2012

Os 87 anos do seu Zé

Há sete anos, eu escrevia, neste mesmo espaço, uma crônica intitulada “Os 80 anos do seu Zé”. Naquela época eu já achava impressionante a disposição do meu colega octogenário, que mesmo com a idade avançada, não dava sinais de que deixaria o volante tão cedo. Um fenômeno!

Essa semana, eu ia por uma avenida movimentada, com uma passageira distraída no banco traseiro do táxi. A pista pela qual eu trafegava estava sendo retida por um veículo mais lento. Pensando em mudar de pista, dei uma olhada pelo retrovisor e quem eu vejo vindo atrás de mim, firme ao volante, com seu táxi também carregado? Ele mesmo: Seu Zé.

Imediatamente, a pressa de livrar-me daquela tranqueira transformou-se em serenidade. Por um segundo, peguei-me filosofando: aquele senhor, do alto dos seus 87 anos, não havia chegado àquela idade à toa. Por certo, a paciência, a calma, eram o grande segredo daquele incrível idoso. E por um segundo fiquei tranquilo na pista em que estava.

Nesse exato segundo, vi pelo retrovisor seu Zé ligando o indicador de direção e dando uma guinada seca no volante. Ele trocou de faixa, reduziu a marcha e acelerou. Passou por mim como uma flecha, deixando os tranca-ruas para trás. Aproveitou o sinal verde e sumiu de vista. Uma aula de direção.

Confesso que há 7 anos escrevi aquela crônica pensando em homenagear meu velho amigo
taxista que parecia aproximar-se da aposentadoria merecida. Mas o tempo parece não ter passado para o seu Zé. Ele continua firme e forte, com uma saúde inabalável, renovando a carteira de motorista com louvor.

Não conheço outro taxista que esteja em atividade com essa idade. Por sorte, ele é meu colega de ponto. Com uma memória invejável, é uma fonte infinita de histórias, ricas em detalhes, muitas das quais já contei aqui.

Eu não sei se vou durar mais sete anos (já ando sentindo o peso da idade), mas se ainda estiver escrevendo essas pequenas crônicas, prometo dar notícias do meu “jovem” colega, que, por certo, ainda estará me deixando para trás com sua vitalidade.

4 comentários:

vidacuriosa disse...

Muito bom! É bom saber de pessoas que não se sentem velhas e que têm condições de prolongar suas atividades apesar do longo tempo. Gostaria de conhecer melhor a vida desse personagem para aprender com ele. Se eu estivesse em um jornal, certamente faria ou sugeriria um perfil sobre essa figura heroica. Iria querer saber o que ele faz e o que ele fez, com tem sido sua vida, para chegar a essa idade com esse dinamismo. Abrs

Bah disse...

A velhice está na cabeça e nos cabelos das pessoas rs..

Kisu!

Anônimo disse...

Exemplos a serem seguidos!Nada de desanimo ou lamentos pela idade! Muito provavelmente ELE nunca pensou nisso!Essa é a receita!

Unknown disse...

A velhice tá no espírito e nem sempre a tranquilidade é o caminho para ser longevo!