O passageiro embarcou no táxi em estado lamentável. Maguila, como era conhecido, era um motorista de ônibus que atravessava um momento difícil. Em meio a uma crise de estresse e depressão, estava afastado do trabalho. Com a roupa amarrotada, barba por fazer e em avançado estado de embriaguês, Maguila pediu ao taxista que o levasse até os altos do Morro da Polícia.
Mesmo sendo um sujeito do bem, o motorista de ônibus tinha arranjado esse apelido graças ao seu tamanho avantajado e à sua cara emburrada. Estarrado no banco traseiro do táxi, meio dormindo, com um boné enfiado na cara e mal iluminado pela madrugada sem lua, Maguila parecia a pior das ameaças para o taxista assustado.
O taxista bem que tentou puxar assunto - uma conversa poderia provar que o passageiro não era perigoso. Mas Maguila não estava para papo. Tinha passado boa parte da noite sendo enrolado por uma prostituta, em um bordel imundo do centro da cidade. Além disso, estava com sono, tonto, mal ouvia o que o taxista dizia. Respondia com resmungos.
Quando o táxi começou a subir o morro, Maguila deu-se conta de que estava chegando. Hora de ver o dinheiro. Quando enfiou a mão no bolso de dentro da jaqueta para pegar a grana, porém, levou um susto: o taxista deu uma freada brusca, parando o carro atravessado no meio da rua. Pensando que seria assaltado, o motorista saiu correndo pela noite, deixando para trás o táxi com o motor ligado, a porta aberta e um passageiro espantado.
Para evitar um acidente, Maguila assumiu a direção, estacionou o táxi junto ao meio fio e ligou o pisca alerta. O jeito era esperar, não arranjaria outro táxi a uma hora daquelas.
Algum tempo depois o taxista reapareceu acompanhado de um vigia noturno a quem pedira socorro. Ao ver o brilho da arma apontada para ele, Maguila ergueu as mãos segurando o crachá da empresa de ônibus e o dinheiro para pagar a corrida.
Pelo resto do caminho o taxista foi todo desculpas. Maguila continuou a não lhe dar ouvidos. Estava tudo bem, desde que chegasse logo em casa.
4 comentários:
Mais uma boa história da série Às vezes, as Aparências Enganam. Tudo isso em uma sociedade marcada pela intensa criminalidade, que leva todo mundo a desconfiar de todo mundo.
depois do seu susto, isto é normal.
Tanta conversa a partir dessa história, mas só me ocorre que gato escaldado tem medo de água fria e que caldo de galinha e precaução nunca fizeram mal a ninguém, que seguro morreu de velho. :)))))
Sorte que não reprisaram a história do veado e da onça ou estariam correndo até hoje, cada um para um lado.
Olho vivo, bró!
TAdinho do Maguila...so pq ele e feioso e emburrado.
MAs eu, no lugar do taxista, não teria nem parado.
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