Com a violência da colisão, o taxista perdeu a consciência. Quando voltou a si, o táxi já havia parado de capotar. Tudo em volta estava quebrado, o táxi virara um monte de ferro retorcido. Vidros quebrados, teto esmagado, taxímetro pendurado. Para não dizer que a perda tinha sido total, o rádio ainda funcionava.
Em estado de choque, esmagado entre as ferragens que lhe perfuravam a carne, o taxista sequer tentou se mexer. O sangue quente lhe escorria pela face. O volante prensava seu peito, as costelas, provavelmente quebradas, impediam que seus pulmões funcionassem direito. Não sentia as pernas, a cabeça girava. Sentiu que estava morrendo.
Alguns minutos de agonia se passaram até que o socorro chegasse. Primeiro alguns pedestres, que o olhavam horrorizados, depois os paramédicos. O taxista sentiu-se o centro das atenções, coisa que nunca conseguira em toda sua vida sem graça. Quase ficou feliz.
O socorrista fazia o que podia. Tentava acalmá-lo. Parecia experiente. Não devia ser a primeira vítima que via morrer entre as ferragens frias de um carro estúpido. Enquanto recebia medicação na veia, enquanto tentavam desentortar o aço que lhe prendia as pernas, o taxista fez apenas um pedido: que desligassem aquele maldito rádio, para que pudesse morrer em paz. E depois apagou.
Acordou 7 dias depois na UTI de um hospital. Estava todo estoporado. Cabeça enfaixada, braços engessados, tubos espetados por todo corpo. Doía-lhe tentar se mexer, mesmo assim fez alguns pequenos movimentos com pés e mãos, para certificar-se de que não lhe faltava nenhum pedaço. Estava inteiro.
O enfermeiro sorriu ao vê-lo acordado. Perguntou se lembrava o que tinha acontecido.
Do acidente, o taxista lembrava apenas uma coisa. O rádio ligado. A maldita música que estava tocando e que ficou ecoando em sua cabeça pelos 7 dias em que esteve em coma, e ainda agora o infernizava: Delicia, delicia assim você me mata/ Ai, se eu te pego, ai ai se eu te pego......
12 comentários:
São duas tragédias juntas: um acidente horrível de carro e uma música horrível presa na cabeça.
a música que faz todos nós querermos morrer, rsrs.
Muito bom!
euhauahuahuahauha
HAHAHAHHAHAHAAHHHAH! PUXA VIDA... pelo menos nao foi a versão em ingles, HAHHAHAHA!
Adorei!
Quem sabe não foi isso que provocou o acidente!
Teus textos são sempre de ler num só fôlego. Não resisti ao "estoporado" hahahaha! Essa você aprendeu com os manezinhos?
Estilo música-desastre é isso!
Dizem os diretores de gravadoras que é isso que o povo gosta. Até onde desceremos?
Abraço.
Mauro,
falei de você e mostrei seu livro para o Poeta Ronaldo Wernek, hóspede da PIACABA, que fez elogios ao seu texto! Tentei dar o livro para que lesse todo, mas se recusou a leva-lo por conta da dedicatória! Mas fica o registro!
Á respeito da música: trata-se de uma excelente aplicabilidade do termo popular "ninguém merece".
Grande abraço, e espero que este texto não seja o relato de um acidente de fato com vossa pessoa.
É literalmente uma tragédia uahauahua
Kisu!
tadinho, nem em coma ele tem sossego...
Essa é uma das coisas mais bem escritas que eu já li na vida. Perfeita, em tempo e espaço. Parabéns e... assim você me mata!
Pobre criatura, é para matar mesmo kkk
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