O homem estava saindo do motel a passos largos, com uma lata de cerveja na mão. Atrás dele, tentando acompanhar seu rítmo, uma mulher. Quando viu meu táxi, o sujeito estendeu a mão, derramando um tanto de bebida. Parecia aflito.
Ele embarcou apressado. Ficou irritado quando viu que a mulher havia entrado no táxi também. Estavam discutindo. Enquanto eu tocava em frente, o homem tentava me convencer que mulher nenhuma presta. Que a "fulana" que estava no banco de trás tinha ferrado ele. Segundo meu passageiro, a mulher devia ter colocado alguma coisa na bebida que fez com que ele dormisse até aquela hora da manhã - tinham entrado no motel na tarde do dia anterior. De tanto ser espinafrada, a mulher desceu na primeira sinaleira que paramos. Bateu a porta e se foi sem falar nada. O homem sequer olhou para trás.
A preocupação do meu passageiro era qual desculpa daria quando chegasse em casa. Confessou que era um mulherengo incurável. Não resistia a um rabo de saia. Sua mulher já o teria prevenido que a próxima que ele aprontasse seria a última.
Não deu outra. Enquanto pagava a corrida, o porteiro do prédio o aconselhou a não dispensar o táxi pois seus pertences tinham sido depositados na portaria. Tinha ordens de não deixá-lo subir. A mulher não queria falar com ele nem pelo interfone. Aparentando calma, meu passageiro aceitou as determinações da mulher. Vamos nessa.
Ele não tinha muita coisa: duas mochilas, um poster do Che Guevara e um violão. O passageiro contou que sua verdadeira mulher mora na Bahia, de onde veio para trabalhar nas obras da Arena do Grêmio. A mulher que acabara de despejá-lo, tinha encontrado em um baile, estavam morando juntos havia alguns meses.
Deixei-o em um alojamento em Canoas onde foi recebido com festa por outros trabalhadores baianos. Pelo visto, os peões o tinham como ídolo. Um baiano arretado, bom com o violão e com as mulheres, segundo garantiram.
Sei lá. Não o vi tocando o violão.
11 comentários:
A julgar pelo blog, os taxistas tem um mundo de crônicas e contos para escrever. Muito bom.
Dizem que baiano não nasce, estreia. Esse cara é uma figura.!!!
Tem cada figura que você olha na rua que é disputada a tapa pela mulherada que faz a gente pensar que o mundo está de pernas pro ar... Mas, é que ser mulherengo é uma arte! Não é pra qualquer um...
Devia ter muito lero este baiano, pois trabalhando num emprego humilde conseguia ouriçar os corações femininos.
Mas, malandro dá nisso, acaba na maioria das vezes levando cartão vermelho.
Abração.
Ricardo Mainieri
Melhor não avaliar todos por um. Isso sempre dá um angu daqueles!
Em matéria de ufanismo empatam com os gaúchos. Pelo que tenho ouvido, ainda precisam de muita aula de violão, os baianos. ;)
Abraços.
uahauha cada gente estranha nesse mundo...
Kisu!
Prefiro os gaúchos. :)
Grande Mauro! Como sempre e cada vez mais um primoroso contador de histórias! Abraço dum assíduo leitor!
Boa crônica! E viva a Bahia!
Amei o texto. Aliás, amo tudo que você escreve, meu ídolo. Invejinha.
HAHAHHAHAHAHA!!!
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