Era um desses típicos moradores de rua. Roupa encardida, barba longa e um charuto apagado no canto da boca. Levava um saco nas costas e um colchonete enrolado embaixo do braço. O pobre homem tinha um companheiro, um cachorro de raça indefinida. O bicho se deixava levar atado à cintura do mendigo.
Como já disse, o homem arrastava os pés. Ele calçava uns sapatos muito grandes. Mas muito grandes mesmo. Deve ter herdado de algum jogador de basquete. A fim de não perder os pisantes, o mendigo arrastava os pés como se estivesse patinando no gelo em câmera lenta.
Inspirado na cena, comecei a rascunhar uma crônica sobre essas figuras folclóricas que toda cidade grande tem. Pessoas que vivem em seus universos particulares. A moça que acha que é dona de Porto Alegre e anda pela rua vestida de rainha; O garoto que corria pela avenida Nonoai dirigindo um carro imaginário do qual, na verdade, só tinha o volante; A mulher que acha que é agente de trânsito e vai para os cruzamentos apitar...
Estava distraído, escrevendo essas coisas, quando bateram na janela do táxi. Era o mendigo que havia voltado. Com o charuto balançando perigosamente entre os lábios, ele perguntou se eu poderia trocar R$50. Achei engraçado e resolvi entrar na brincadeira. Disse que sim.
O homem, então, tirou do bolso um feixe de notas de R$50. Novinhas. Devia ter mais de mil reais! Ele escolheu, com cuidado, uma entre todas as notas (talvez a menos nova) e me passou. Devolvi o dinheiro trocado. Ele agradeceu, guardou o dinheiro sem conferir, resmungou alguma coisa para o cachorro e se foi - arrastando os pés para não perder os sapatos.
A cidade não cansa de me surpreender.
10 comentários:
O homem arrastava também uma misteriosa história que me deixou angustiado por ser tão curioso e não poder descobrir. No meio do texto, a gente vai até pensando em doar seus próprios sapatos quando vem a informação de que ele poderia comprar, se quisesse, um novinho em folha e no número certo.
Boa história. Abrs
Aqui em Brasília há algumas dessas figuras. O Luís Vida, misto de papai noel e Karl Marx, habitava um ponto de ônibus e dava conselhos aos que por ali passavam. Tem uma velhinha de longos cabelos brancas, parecida como bruxa, que vaga como assombração as tesourinhas de Brasília... figuras interessantes, pratos cheios para nós cronistas!!!
Vai que o cara é milionário e se disfarça pra não ser asaltado, tchê. Pra rebater teu causo tinha o adolescente que tocava uma guitarra imaginária. Uriel era o nome dele. Sem dinheiro tirava notas em voz altra onde quer que estivesse. Volta e meia se ouvia na rua um som meio metálico, às vezes tremido, esticado feito guitarra.Soube há alguns anos que ele alcançou o sonho, quero dizer, a guitarra, e fez parte de uma banda. Acho que já entrou sabendo tocar.
Só,pra te atualizar, saiu hoje no jornal, que a tal BR só vai ficar pronta daqui a 6 anos.Assobia que passa, meu filho!
;)
Abração.
Cara tem uns mendigos desses que devem fazer um bom dinheiro, principalmente esses de semáforos. Por isso que tem aqueles casos lamentáveis onde mães alugam filhos pequenos para pedir esmola.
Ora, ora, ele achou uma bolada e não sabia o que fazer!! Decidiu tirar uma onda contigo!!
Beijos!!
Ahahahahahaha... Isto sim é surpresa. kkk. Feliz Natal, companheiro.
Suas crônicas também não param de nos surpreender!
Bom NATAL e Felicidades para toda Família.
São todas as mulheres bonitas no Brasil ou você apenas enviar os bons olhando aqui para a Irlanda.
Mas na minha vida eu nunca encontrei um mendigo rico.
Tudo de melhor para o Natal e um 2012 feliz
Agradeço a Deus por Google translate
Meio dificil mas não impossivel... que ele tenha usado o dinheiro direitinho.
Bom Natal pra voce, tudo de bom!
HAHAHAHAHAHAH eu já vi essa loca vestida de rainha, kkkkkkk e nunca entendi aquilo, já vi ela umas 2 ou 3x na rua... mas essa que apita como se fosse agente de transito, eu nunca vi, HAHAHAHAHAH!
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