domingo, 28 de agosto de 2011

O Barão dos Táxis

Nilton era filho único. Como tal, foi criado cheio de atenção. A mãe de Nilton não media esforços para oferecer ao filho todo o necessário para que ele crescesse feliz, para que não lhe faltasse nada, tudo do bom e do melhor para o pequeno Niltinho.

O pai de Niltinho era um modesto taxista.Trabalhava como um condenado, mas, mesmo assim, tinha dificuldades com o sustento do filho. Por exigência da mãe, Niltinho frequentava os melhores colégios, vestia as melhores roupas. Tinha tudo do bom e do melhor.

Do jovem Niltinho, a mãe exigia apenas uma coisa: que ele escapasse do destino do pai. Niltinho não deveria ser taxista. Não que ela se envergonhasse do marido, mas queria para seu filho apenas o melhor, queria que ele fosse alguém na vida.

O pai de Nilton morreu no mesmo ano em que ele formou-se em administração de empresas. Sem conseguir colocação no mercado de trabalho, Nilton passou a administrar o táxi que seu pai lhe deixou. Aplicou ao negócio seus conhecimentos da faculdade. Modernizou o veículo, reduziu custos, estabeleceu metas aos três empregados que colocou a tocar o carro.

A mãe de Nilton nunca soube dos negócios do filho. Depois de assinar alguns papéis em meio ao inventário, ela nunca mais ouviu falar do táxi. Sabia apenas que o filho estava vencendo na vida. Sem nunca sentar ao volante, Nilton chegou a ter mais de cem táxis sob seu comando. Um pequeno império que proporcionou um confortável fim de vida à sua mãe.

Tudo isso aconteceu há muito tempo. Niltão contou-me essa história entre um medalhão e outro de picanha em sua confortável casa nos altos do Partenon. Ele não mexe mais com táxis. Com a vida ganha, limita-se a administrar suas ações na bolsa de valores, colecionar seus selos e cultivar sua lustrosa barriga de chope.

Como escrevo histórias de taxistas, Niltão queria que eu escrevesse sua biografia. Não tenho competência para tanto. Tudo o que prometi foi contar este pequeno caso do Barão dos Táxis que, por obediência à mãe, nunca colocou o dedo em um taxímetro.

10 comentários:

Anônimo disse...

Bonita biografia!

vidacuriosa disse...

Legal a história. Nilton seguiu seu destino hereditário sem contrariar os desejos da mãe.

Clarice disse...

A velha história. Sorte tem quem está preparado na hora que passa o cavalo encilhado. Imagino que para ser taxista existam duas decisões: por necessidade ou por paixão.
Acabou que o cara chegou ao que a mãe queria dirigindo, mesmo que fosse uma empresa.
Terminou a biografia e eu só consigo lembrar do medalhão de picanha.
Abração e boa semana.

Silvia Regina Angerami Rodrigues disse...

Oi, Mauro, que bela história de vida! Sobre o seu comentário no "Efeito Pimenta", é o seguinte: para os jornalistas aquilo foi uma "ordem"! Mas é claro que todo mundo pode ver e tirar suas próprias conclusões!! rsrsrs Ando distante dos blogs, não dá mais tempo... Trabalho o dia inteiro e estou escrevendo um livro... Mas vai melhorar e pretendo voltar aqui todas as semanas, como eu costumava fazer! Há braços p/ vc tb!

Anônimo disse...

Sempre muito bom te ler, querido.Eu sou leiga no assunto, mas acho até que suas histórias deveriam virar livro...

Quanto ao Niltão, esse venceu na vida e deve ter deixado a mamãe muito feliz!rs

Beijos

Anônimo disse...

Já vi mães que pedem para filhos não colocarem os dedos em drogas, apostas, bebidas e cigarros, mas em taxímetro é a primeira vez.

Sylvio de Alencar. disse...

Bonita história, Mauro.
Você a contou com competência.
Aliás, vem melhorando com o tempo...! Parabéns!

Grande abraço, tchê!

carlos Medeiros disse...

Gostei da história das broas do velório.

Dalva M. Ferreira disse...

Concordo com o Sylvio. Aliás, te acho o máximo.

Maete Liv disse...

Tuas historias continuam ótimas!!Teu blog continua ótimo, parabéns!