O taxista pegou o táxi na sexta-feira pela manhã - ele era folguista, trabalhava aos finais de semana. Com o feriado prolongado, teria três dias inteiros para ficar com o carro, fazer o horário que bem entendesse. Como estava apertado de dinheiro, resolveu que aproveitaria ao máximo o tempo que tinha para faturar.
Como se pretendesse entrar para o livro dos recordes, o taxista trabalhou como um louco, direto, dia e noite. Fazendo refeições rápidas, tirando pequenos cochilos dentro do táxi, tomando muito café preto. Sexta o dia todo e a noite toda, sábado a mesma coisa. Quando deu por si, o domingo já estava prestes a raiar e ele ainda não tinha desligado o taxímetro.
Depois de levar uma corrida ao Partenon, o taxista vinha pela avenida Ipiranga, que estava vazia àquela hora da madrugada. Ao avistar, ao longe, o sinal aberto, na esquina da avenida Silva Só, ele pressionou levemente o acelerador do táxi. Essa foi a última coisa que fez antes de pegar no sono.
Quando acordou, depois do estrondo, viu as luminárias da avenida passando pelo para-brisa. O carro estava apontando em direção ao céu, girando no ar. Houve um segundo de silêncio que durou uma eternidade. Os olhos arregalados do taxista olhando para as luzes acesas. Ao fundo, o céu azul já quase claro do amanhecer, salpicado com as últimas estrelas da noite. O taxista sentiu, naquele único e interminável segundo, que o pior ainda estava por vir.
O cochilo ao volante durou uma quadra inteira. Quando bateu contra o meio-fio e levantou voo, o táxi já estava na esquina da avenida Ramiro Barcelos, em alta velocidade. Depois de ser projetado para cima, o carro caiu contra o asfalto e atravessou toda a pista rodopiando, só parando quando chocou-se contra um poste, o que o impediu de cair no arroio Dilúvio.
Perda total do veículo. A roda dianteira parou sob o banco do motorista, o teto torceu, as portas trancaram. O taxista, por milagre, saiu praticamente ileso por uma das janelas. Com a pane do sistema elétrico do carro, o taxímetro, enfim, desligou.
17 comentários:
Linda narração! Lindo texto! Péssimo exemplo de taxista! Colocando a sua vida e de terceiros em perigo real. Forte abraço
Adorei o texto, grande Mauro. Aquele abraço!
Podemos colocar um texto seu no Facada esta semana? Quer sugerir algum? (eu não falo nada, mas sempre passo por aqui) bj.
A vida de alguém poderia ter dado Perda Total. Sinto pelos que morrem ou ficam prejudicados pelo resto da vida por culpa de motoristas irresponsáveis, sejam de táxi, de caminhão, de ônibus, partuculares, o que for.
correção: particulares. Esqueci de dizer: o texto é ótimo, bom para pensar no assunto.
Que pena que a gente tenha de se matar por algo tão desprezível, como o dinheiro.
muito profundo!
Caracacas!
Vi a cena em câmera lenta, acredite. Como passageira de uma motorista adormecida li sem respirar.
Muito envolvente o escrito. Quanto dura um segundo depende de quem dirige e de quem escreve.
Abração.
Por um momento achei que o taxista fosse acordar no final e perceber que tudo não passou de um sonho. Gostei do texto.
A conta é simples. Será que o que ele faturou no fim-de pagou a perda total do carro? Não, né? Logo, ele fez um péssimo negócio, como se isso não fosse óbvio.
Que sorte de ter saído vivo, poderia ter entrado embaixo de um caminhão e não ter mais acordado.
Ótimo texto, pra variar.
Não tem jeito, mesmo que não se queira uma hora ele para, por vezes, de forma trágica.
Como o Adriano disse: ótimo texto, pra variar.
Oi trata-se a 1ª vez que vi a tua página e adorei tanto!Espectacular Trabalho!
Adeus
tõ sempre falando pra galera ñ vale á pena é muito horário.se gasta o dobro com a saúde sem falar na família q sofre junto.
abraço Evandro
Oi, Mauro!
Òtimo com os textos e sensato na profissão como sempre.
Beijos mil!!!
Muito bom. Uau!
infelizmente,as pessoas ficam cegas quando se trata dinheiro, ainda bem que foi só dano material.
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