Fui atender a uma solicitação de táxi em um motel. Parei em frente ao apartamento indicado, liguei o taxímetro e esperei. Primeiro desceu um senhor bem vestido, cerca de 50 anos. Ele embarcou na frente e, antes que fechasse a porta, pedi que apagasse o cigarro. O homem virou uma arara. Ficou do lado de fora do táxi fumando e protestando contra os chatos antitabagistas. Liguei o rádio para não ouvir os resmungos.
Em seguida, veio uma mulher, também elegante, ajeitando o cabelo e falando ao celular. Os dois embarcaram e, antes que eu arrancasse, o homem protestou quanto ao valor que constava no taxímetro. Expliquei que a corrida começava no momento que eu chegava ao endereço solicitado. A demora em embarcar no táxi fica por conta do cliente. Novo discurso do homem. Blá, blá, blá...
Logo que saímos do motel, novo problema. Para evitar fechar um cruzamento, parei o táxi no sinal verde, esperando que os carros da frente andassem. O homem pediu que eu avançasse o sinal, que trancasse tudo se fosse preciso, pois estava com pressa. Sua deselegância estava passando dos limites e minha paciência acabando. Aquilo não ia terminar bem.
No banco de trás, a mulher, com um pequeno espelho, parecia concentrada em retocar a maquiagem. A cada nova grosseria do homem, ela limitava-se a olhar para ele, revirar os olhos, suspirar e voltava ao que estava fazendo. Enquanto isso, o clima no táxi piorava.
Lá pelas tantas, o homem enfiou o dedo no rádio e desligou a música, reclamando do barulho. Eu já estava pronto para mandá-lo longe quando a mulher, enfim, abriu a boca:
- Meu bem, o mundo não tem culpa de as coisas hoje não terem funcionado como deveriam.
Juro que ela disse isso. Bem assim, como todas as letras transbordando malícia. Uma frase avassaladora, que soterrou o homem no banco do táxi, a ponto de não se ouvir dele nem mais um pio.
Deixei-os em um shopping. Por certo, vão procurar entre as prateleiras o prazer que não encontraram no motel. Isto se o cartão de crédito do homem funcionar, é claro.
16 comentários:
aí ninguém tá livre mas sua irritação ñ justifica.pode crêr isto vai ficar o atormentando por muito tempo vou torcer para ele ñ embarcar no meu táxi pois ñ terei a mesma paciência,rsrsrsrsrsrs.
abraço
Muito bem abordado! Grande texto!
Confesso, não conseguia parar de ler os seus textos.Um melhor que o outro.
Parece que abriu um mundo novo em minha frente...
Gostei muito.Virei mais vezes com certeza.
Ótimo domingo para vc.
Prendi a garagalhada porque o povo da casa está descansando mas nada como uma "cortada" como a dessa mulher para calar um frustrado.Valeu!
Tô aqui chorando de rir. Maravilhoso. bj
Esse daí mereceu!!! kkkkkkk
Muito bom como sempre!
Abraços!!!
Muito bom que ela saiu por ti, pois acredito que seus recursos estavam mesmo se esgotando! E foi merecido!
Grande abraço!
boa!
É por essas e outras que você é um santo cheio de paciência. No seu lugar eu sairia no mesmo tom.
Essa mulher sabe como alcançar o ego de um babacão.E você conta histórias como ninguém.
Abração.
E teve a mulher a última palavra. Duplo vexame o dele.
Fico imaginando a feição do rapaz depois de ter escutado isso.
Ótima história!!! As vezes a imaginação não consegue ser melhor que os fatos reais. Ô mulher má!
Grande abraço
Parabéns por ter saído do Blogger.com.br da Globo. O seu blog está ainda melhor!
Se um dia resolver mudar novamente, vá para o Wordpress. É superior ao Blogspot.
Forte abraço!
parabens
Grande texto. Perfeito. Invejinha...
Texto preconceituoso e inverossímil.
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