Teoria da evolução

Dois travestis fazem sinal para meu táxi. Um deles, mais exaltado, está quase no meio da rua, como se eu fosse o último taxista da cidade. Eles entram falando alto. O mais discreto embarca atrás, enquanto o outro, mais afetado, senta ao meu lado e se apresenta como Nina.
Enquanto arranco, Nina fica abanando para uns rapazes que passavam. Espero que ele acabe de acenar e peço que coloque o cinto de segurança. Ele explica que não pode, pois implantou seios de silicone. Então, paro o táxi e peço que passe para o banco de trás, com o outro. Depois de me analisar dos pés à cabeça, o travesti dá um suspiro e resolve colocar o cinto. É hoje.
A corrida foi movimentada. Nina atirava beijos, acenos e olhares libidinosos para todos os homens que vislumbrava. Além dos seios, também tinha feito cirurgia plástica no nariz, deixando-o arrebitado tipo Michael Jackson. Sobre o olho esquerdo, via-se uma cicatriz saliente, que lhe deformava a sobrancelha. Ele explicou que a marca no rosto era resultado de uma briga em que se envolvera "no tempo em que era gay" (?).
Como eu não entendi aquele negócio de não ser mais gay, Nina tratou de esclarecer minha ignorância com uma tese inusitada. Uma espécie de teoria da evolução dos homossexuais. Segundo ele, o homem nasce homem, vira gay, passa a travesti (estágio em que ele se encontrava) e, alguns poucos, acabam evoluindo para transexuais. Interessante.
A conversa acabou quando um caminhão parou ao lado do meu táxi no semáforo. O motorista, um moreno sem camisa, retribuiu aos acenos de Nina, que quase teve um chilique. Surtado, o travesti abriu o decote e começou a sacudir os peitos de silicone em direção ao motorista! Espetáculo deprimente que só acabou quando, finalmente, o sinal abriu.
A corrida acabou com Nina em êxtase e o outro, visivelmente deprimido, lamentando o fato de não ser tão "feminina" quanto o colega.
Durma-se com um barulho desses.