domingo, 20 de fevereiro de 2011

O preconceito da cor

Um certo diretor de TV queria aproveitar uma vinda a Porto Alegre para conversar comigo. Estava interessado em um depoimento meu sobre um ilustre escritor, que fora meu passageiro e sobre o qual ele pretendia produzir um documentário. Para encontrá-lo, eu tinha o hotel em que ele estava hospedado e seu nome artístico: Candé.
Na portaria do hotel, a recepcionista explicou que eu precisava do nome do hóspede, para que ela pudesse chamá-lo. Não havia ninguém registrado como "Candé". Como eu sabia que o diretor era carioca, a funcionária verificou os clientes vindos do Rio de Janeiro. Estávamos indo bem. Havia um certo "Carlos" que poderia ser quem eu procurava. Mas não havia certeza.
Foi quando eu caí na asneira de dizer que era taxista. A recepcionista analisou minha triste figura mal vestida e mudou o rumo da prosa. Disse que não poderia incomodar um hóspede sem que houvesse um bom motivo. Que o contato dos taxistas com os hóspedes teria que ser direto com o cliente e que eu deveria esperá-lo no local destinado aos taxistas: o olho da rua, por assim dizer.
Resumo da ópera: fui cuidar da minha vida e, mais tarde, Carlos André (Candé), muito gentil, lamentou o fato de não ter me encontrado. Ficou para uma próxima vez.
Conto essa pequena historinha para mostrar que não se pode julgar um livro pela capa. Não devemos ser preconceituosos.
Estou começando o processo para a troca do meu táxi. Para comprar o veículo novo, porém, preciso vender o atual, que, apesar do seu uso na praça, está em excelente estado. Acontece que o simples fato de o carro estar pintado na cor de táxi, já o desvaloriza uma barbaridade. As pessoas não querem saber de andar num carro dessa cor, mesmo que seja um ótimo negócio. Sacanagem!
Peço aos futuros interessados em fazer negócio comigo, que abram seus corações, que enxerguem a beleza que existe no vermelho-táxi. Abaixo o preconceito da cor!

18 comentários:

Caminhante disse...

Lamentável esse preconceito profissional. A própria funcionária é uma que deve sofrer por aí quando diz que trabalha numa recepção.

(Aqui em Curitiba é laranja-taxi. Acredito que seja muito pior!)

Dona Sra. Urtigão disse...

Em Cabo Frio e Petrópolis, é branco-taxi, no Rio, amarelo-taxi. Viu, tente vender em outro lugar...
Quanto a preconceitos ...ah ! Como se vê disso entre nossa espécie, Humana

Anônimo disse...

Mauro,

a Urtigão chegou ( como sempre...) muito antes de mim, e eu vinha exatamente sugerir isso: venda em qualquer outra cidade cuja cor dos taxis não é vermelho! E são a maioria! Vermelho é para bombeiro! Certa vez fui vender um veiculo meu, usado a vida toda em Imbituba, SC, na cidade de São Paulo. Mercado muito maior, pensei eu, maior facilidade de venda com preço maior. Vendi. Dias depois encontrei meu carro circulando em Imbituba. O comprador vendeu para um meu vizinho. 700 km para lá, 700 km para cá! O mundo é redondo! Só o preconceito é plano!

Cimitan Jr. disse...

Mauro, eu vivo este problema toda vez que estou com o meu Fusca 1972. Os manobristas não nos enxergam simplesmente. Ótimo! Pois nunca lhes entregaria o volante do besouro...
Grande abraço,
Guilherme (filho do Eduardo)

Ricardo Mainieri disse...

Triste , mas verdadeiro este teu relato.
Infelizmente, um bom documentário deixou de ser feito. Pelo menos por enquanto.
Como já houve "O carteiro e o poeta", poderia acontecer "Caio e o taxista"
A vida é feita desses revezes. Bom que tenhas o humor de trazer estes pequenos tropeços para todos nós.

Abraço.


Ricardo Mainieri

Clarice disse...

Tem algum taxista querendo comprar teu carro por aí?
Da próxima vez diga que é escritor e que está aí para ser entrevistado. Ela vai pedir autógrafo.
Infelizmente não tem como fugir dessa regra. Até passarinho julga a aparência.
Abraço e boa venda!

ricardo garopaba blauth disse...

alo Mauro

"pré..." existe pra tudo......
PRE conceitos...PRE ocupacões e por ai vai..........
então vamos viver um dia de cada vez..........e fo....as PRÉ.....

abrs
ricardoGAROPABA

Caio disse...

Ótimo post! hahaha, eu não tenho preconceitos... Mas, estudante ridículo e limitado que sou, não tenho condições de ter carro. Apenas a minha magrelinha vermelha, que apesar dos pezares está comigo sempre que preciso!

grande abraço!

Bete Nunes disse...

Olha, na minha humilde opinião,o preconceito parte, muitas vezes, primeiramente das instruções que um funcionário recebe. A recepcionista fez sua lição de casa,isto é, não teve jogo de cintura, ou,digamos, "felling" para verificar a informação junto ao cliente, uma questão talvez (talvez) mais de competência do que propriamente de preconceito.O jornalista, por sua vez, também falhou ao dar simplesmente "Candè" como referência. O preconceito, venha ele de onde vier, atinge até cor de automóvel mesmo, pois aqui em sampa, carro branco não vende, ou vende muito pouco, pelo mesmo motivo (os taxis aqui são brancos), como se fosse algum tipo de rebaixamento ou indignidade ter um carro "cor de taxis" ou "de carro de bombeiro", ou qualquer outra relacionada a uma profissão. Lembrando que carro preto ainda é tido como "carro de executivo", como "chic" e custa mais caro, mas já foi ligado à enterros, funerárias e afins e ninguém queria.

Bete Nunes disse...

desculpe: "feeling".

Letícia Cunha disse...

É, não adianta mesmo. A humanidade evolui mas os "pré-conceitos" se perpetuam e atingem todos os lugares possíveis. Pena que não deu pra ajudar no documentário, né?! rs
Boa sorte com a venda do taxi, e que venha outro com mais histórias!
:)

Leci Irene disse...

hehe... melhor vermelho do que azul...

Anônimo disse...

o problema não é a cor, é a quilometragem.

Anônimo disse...

Que chato, a gente não cansa dessas coisas. Mas tomara que o preconceito de cor se resolva e você consiga vender o carango.

Davi disse...

te dou 5 pilas no siena?
aceita?

att
o cara da tpv da vistoria da eptc

Anônimo disse...

Sabe o que seria ótimo num caso desses, simplificando a hipótese?
Se ela não soubesse que era taxista e você soubesse do preconceito dela, ao retornar da entrevista você passaria por ela e diria que era taxista, ao sair.
No seu caso, que sucumbiste ao preconceito, o preconceito dela permaneceu inalterado, o próximo taxista que conversar com ela terá o mesmo tratamento. Mas, se em uma ocasião ela enxergar que um taxista pode ser alguém notável, daí da próxima vez ela vai pensar melhor antes de "despachar" um taxista.
A gente combate o preconceito abrindo os olhos das pessoas, e "dar nos dedos" (com elegância) é uma das melhores formas.
Grande abraço!!!

Tiago Medina disse...

Pré-conceitos não levam à nada mesmo.

Boa sorte na venda.

abração

JASouza. disse...

O único zero quilômetro que adquiri era um Passat75, cor "vermelho nobre". O que dava de gente me acenando na rua não tinha no gibi... Mesmo assim, virei a quilometragem e acabei vendendo o mesmo para um colega que recortou a trazeira do veículo, transformando-o num utilitário. Como vê, nobre é a cor do nosso taxi!