domingo, 23 de janeiro de 2011

O Pitboy e o deficiente

Liguei o alerta e parei meu táxi em fila dupla, na última quadra da rua Capitão Montanha, em frente ao Banrisul. Aquele trecho é fechado ao trânsito, eu não haveria de atrapalhar ninguém. Ficaria ali esperando uma passageira que voltaria em minutos.
Naquela pequena quadra, tudo que há são umas poucas vagas para estacionamento, que são disputadas a tapa, já que ficam no coração da cidade. Todas as vagas estavam ocupadas, menos uma. O local vago tinha uma sinalização azul, no asfalto, indicando que o lugar era reservado a deficientes físicos.
De repente, uma camionete enorme, dessas que mais parecem um tanque de guerra, com rodas gigantes e películas escuras nos vidros, aproximou-se e iniciou a manobra para estacionar na vaga. Procurei por algum adesivo de deficiente físico no veículo, mas tudo que havia era o decalco de uma academia de musculação. Até ai, tudo bem, tenho uma passageira cega que frequenta academia.
A primeira a descer da camionete foi uma loira de curvas vertiginosas e cabelo esvoaçante. O motorista, por sua vez, também não aparentava nenhuma deficiência, pelo contrário, mostrava saúde invejável. O garotão bronzeado, tatuagens nos braços musculosos, abraçou a loira e se foi, lépido e despreocupado. Um típico pitboy.
Não demorou muito, um pequeno Uno Mille parou ao lado da camionete. O condutor olhou por alguns segundos a vaga ocupada e tocou em frente. Era possível notar que ele acelerava o carro com um mecanismo preso ao volante - provavelmente, não tinha os movimentos das pernas. Por vezes, eu preferia não ser tão observador.
Logo minha passageira voltou. Contei para ela a cena que acabara de assistir, do pitboy e do deficiente. Confessei que, mesmo estando em fila dupla, torci que um azulzinho corajoso surgisse para aplicar um golpe de caneta no fortão da camionete, mas nem sinal dos homens da lei.
Passei o resto do dia tratando de digerir a indignação.

19 comentários:

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

na hora em que eles realmente deveriam aparecer é mais fácil achar uma vaca voando que um azulzinho com a caneta na mão... mas na hora de atrapalhar ainda mais o trânsito caótico eles logo aparecem...

Eliana disse...

Isso é mesmo muito indigesto!

Essa semana passou nos telejornais um caso de agressão a um deficiente físico devido a uma vaga de estacionamento... lamentável: o agressor era um delegado!

É, o mundo está cada dia pior de se viver...

Alô Alô marcianos! Aqui quem fala é da terra!!! Precisamos de um help!!!

Ps: estou curiosa pra te perguntar uma coisa... Fiquei intrigada com a história dos seus óculos de graus, que vc comprou (daquela crônica que está no seu livro)... Eu ri muito daquele acontecimento! E então, você chegou a usar os "oclinhos" da Barbie?

Abraços!

Anônimo disse...

Só de ler ficamos TODOS indignados! Abaixo esses tipinhos de Pitboy

Anônimo disse...

Mauro,

olha só quem é o blog homenageado no BLOG VÍCIADO de hoje:

http://blogvcd.blogspot.com/

Merecidamente! Lá também é aos Domingos!

Caminhante disse...

Eu tbm fico tão indignada! Digo que a deficiência dessas pessoas é moral.

Thai Nascimento disse...

Difícil digerir uma coisa dessas mesmo, né?

E a indiferença e o egoísmo imperam!

Gosto muito do teu estilo de escrita!
*

Dona Sra. Urtigão disse...

Provàvelmente são deficientes - mentais/intelectuais/sociais. Mas como causam danos ao coletivo, bem que poderiam ficar isolados sem carro/carteira

**** disse...

Nem a canetada ensina estes tipinhos, porque com certeza são filhos dalgum dotô. Basta um telefoninha pro papi.

Andre Mansim disse...

A Eliana me indicou seu blog e disse que vc escreve bem , ela tem razão. Vou voltar aqui sempre agora!

Depois me faz uma vizitinha talvez goste!

Unknown disse...

Manéa para o amigo Mauro Castro.
Leio sempre tua coluna,sou leitor do DG desde o primeiro exemplar,,,daí o têrmo ali acima ( amigo ).
Sou deficiente auditivo profundo,tenho cartão para vaga especial,e este caso que vc relatou já ocorreu comigo na Alberto Bins,tinha duas vagas,uma para idosos que é meu o caso e outra para deficientes,ambas ocupadas por quem não pode usufruir,fui em frente,,,,mas onde anda a fiscalização nesta hora.Mauro,reclamar para quem?
Ainda bem que temos tua voz no DG para quem sabe dar um alerta as autoridades.
Sucesso sempre e muitas alegrias...Grande abraço

Plínio Nunes disse...

Esse é o mesmo tipo de gente que não se importa com mais nada a não ser sua própria vida. É o mesmo que joga lixo na rua (muitas vezes de dentro do carro, sai para passear com cachorro e não recolhe os excrementos, não abre a porta para ninguém e sempre age para levar vantagem em tudo. E não é só pitboys. É gente (se é que dá para chamar assim) de todos os matizes, idades, classe social, raça e cultura. Muitos reclamam e, quando chega a sua hora de ser solidário ou educado, não está nem aí. Por sorte, há, em maior número, aqueles que não perderam o senso de solidariedade, justiça e respeito. É por esses que o mundo não está perdido.

Plinio Nunes disse...

Bah. Fiquei tão indignado que errei o endereço do meu blog. www.vidacuriosa.blogspot.com e não vidaduriosa.

Delafonte disse...

A nobreza exigi a contenção das emoções e o comedimento. Você é um nobre, um gentleman, Caro Mauro. Somos iguais nesse quesito.

Tem momentos, entretanto, em que eu gostaria de ser o Charles Bronson.

Clarice disse...

Falta campanha, punição e multa.
Uma faquinha bem afiada pra furar os 4 pneus também ajuda.
Esses caras devem ser os mesmos que reclamam da falta de cumprimento das leis, da corrupção.
Abraço.

Makoto® disse...

Isso me deixa muito injuriado. Fico dando voltas e mais voltas, acabo pagando uma fortuna em estacionamento, porque respeito vagas de deficientes, idosos, sinalização de proibido estacionar... E os imbecis que resolvem ser espertinhos nem perdem o sono. Mundo injusto...

Rud disse...

Salve Mauro

Realmente, meu caro. Tem certos momentos que seria melhor sermos cegos para não presenciarmos tais cenas. Do lado de é igualzinho dia após dia, noite após noite.

Abraços!

Carla disse...

Na minha cidade, vejo cenas assim muitas vezes por dia. E não é só no espaço de via pública. Nos estacionamentos dos shoppings é a mesmíssima coisa que se repete, aliás, também com as vagas para idosos. Mocinhos e mocinhas saudáveis estacionando onde os idosos deveriam fazê-lo.

No ano passado, sofri uma cirurgia no joelho que me obrigou a andar de muletas por quase dois meses. Consegui sentir na carne a dificuldade que é andar muito quando mal se consegue dar uns passinhos. Disso, tirei a lição de que, para se tirar carteira de motorista, o certo seria que todo candidato fosse obrigado a andar de muletas por, pelo menos, duas semanas. Assim teríamos noção de o que é o esforço que um deficiente motor enfrenta quando pitboys e moçoilas, além de senhores e senhoras inescrupulosos, estacionam seus tanques e carrões nas vagas que deveriam ser dos deficientes.

Vai de Táxi! disse...

Arranhava o carro do PITBOY e saia.

=D

Anônimo disse...

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